O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, janeiro 28, 2002



6 - Tenho pela mentira um horror quase físico. Sinto-a à distância e agora...neste mesmo momento... sinto-a a vaguear, asquerosa e suja, em volta de da minha alma que vibra no orgulho de ser pura. Se os outros me não conhecem, eu conheço-me, e tenho orgulho, um incomensurável orgulho em mim!

DIÁRIO DO ÚLTIMO ANO - Florbela Espanca

**** ****

«Possuir é o mesmo que conhecer: a Escritura tem sempre razão. O amor é feiticeiro; conhece as fontes. A indiferença é vesga; o ódio é cego; tropeçam lado a lado no fosso do desprezo. A indiferença ignora; o amor sabe; decifra a carne.

É preciso possuir um ser para ter a oportunidade de o contemplar nu. Foi-me necessário amar-te para compreender que a mais medíocre ou a pior das pessoas humanas é digna de inspirar o eterno sacrifício de Deus lá no alto.»

In «FOGOS» de Marguerite Yourcenar


*** ***


«A SOLIDÃO E O AMOR»
(...)
Na origem do impulso para a comunicação amorosa estaria, pois, uma consciência da cisão intrínseca do ser humano, da separação dentro de si e em relação aos outros. O corpo é o primeiro sintoma de incomunicabilidade, o corpo é a forma exterior da interior forma hermética do ser humano. Os corpos são entidades, como os seres que transportam e, se por um lado são reflexo, por outro são aquela superfície em que tudo se reflecte. Por isso o corpo é o ponto de partida para o amor. Talvez cessando o corpo também o cesse, mas entretanto tem de ser considerado como o instrumento mais causador da nossa solidão, portanto, o mais imediatamente capaz de nos permitir ultrapassá-la.

(...)

O sexo é a matriz do nexo. O amor pressupõe de facto uma iniciação: o reconhecimento da cisão e a sua ultrapassagem. A Iniciação interessa a todos: homens, mulheres, pessoa, pessoas, espírito, solidão, amor, cisão, fusão: apenas aspiração ao absoluto da comunhão perfeita, impulso para a superação do eu pessoal no eu impessoal superior.

(...)

IN «AS NOVE INCURSÕES» de Ana Hatherly

**** ***

PENSAMENTOS SUBMERSOS

Na linha do amor e da solidão, o fio da navalha ou a espada de dois gumes...

Com ferros matas com ferros morres, se calas consentes se falas mentes...

A verdade só o teu coração a sabe, escuta-o pois em profundo silêncio...

Nem sábios nem poetas te dirão nunca, a sabedoria do teu próprio coração...

Só a Música das esferas te traz reminiscências de anjos e deuses e a beleza intacta das Mães.

(De resto, o quotidiano tu desprezas)


Sem comentários: