O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, fevereiro 03, 2002



23
A VIDA TEM A INCOERÊNCIA DUM SONHO.

E QUEM SABE SE REALMENTE ESTAREMOS A DORMIR E A SONHAR

E ACABAREMOS POR DESPERTAR UM DIA?

SERÁ ESSE O DESPERTAR QUE OS CATÓLICOS CHAMAM DEUS?


in Diário do último ano de Florbela Espanca

Para a Gusta
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NOTA À MARGEM

Tenho andado a pensar neste facto curioso, que é as pessoas neste mundo, digo, nós, cada um de nós, de cada vez que conhecemos alguém ou de algum modo temos acesso a uma nova alma e talvez mais na Internet, isso se reflicta, abrir-se um campo de perspectivas inesperado como de um sonho ou mistério se tratasse, como se cada ser humano tivesse uma chave para nós; como se uma nova pessoa nos trouxesse algo de novo, uma esperança, uma confiança e isto há centenas de anos estou certa e dura uma vida inteira; e mesmo que uma pessoa se sinta, magoada e ferida, desiludida ou desfeita pela dor de decepções de confrontos e outras tantas perdas, traições e enganos, vai e ainda mais uma vez e outra vez acreditar no ser humano, no seu próximo, seja numa perspectiva amorosa, seja de amizade, compreensão ou de afecto.
Eu fico perplexa como é que o ser humano sabendo que “o outro” nunca lhe traz esse sonho e que à ilusão do encontro mais tarde ou mais cedo surge quase sempre a desilusão e o sofrimento, sim eu estranho como é que ainda acreditamos numa nova pessoa de cada vez que a encontramos e temos esta ingenuidade de dar e receber tanta esperança num simples olhar ou gesto e mais incompreensível ainda numa palavra à distância, de uma alma desconhecida, num espaço virtual.
Não será nisso precisamente que consiste a nossa humanidade? Apesar das perdas e danos infligidos durante uma vida inteira, ainda acreditamos e sempre e isso é o mais espantoso no ser humano como algo renovado ou sonhamos apenas com essa possibilidade, ludibriando assim a nossa incontornável solidão...
CONFESSO QUE NÃO SEI ou este é o maior mistério das vidas humanas.

Talvez nós humanos mais não sejamos do que argolas de uma corrente invisível que abraça o planeta...

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Vesper, tu juntas tudo
Quanto dispersa a luminosa aurora,
Trazes a ovelha, trazes a cabra,
Só não trazes à mãe a filha.


Fragmentos – SAFO


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6

A macieza do teu
Fruto
Da pele do fruto do teu hálito

Disfruto
As tuas mãos e o hábito leve
E tão frequente:

Do teu vestido
De flores
Aberto à frente

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7

Que será feito da luz
Dos teus cabelos
Que me acendiam nos teus ombros?

Nos teus pulsos...

Enquanto eu adormecia
Na fundura morna
Da sombra do teu colo

In “MINHA MÃE MEU AMOR” de Maria Teresa Horta

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