O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, outubro 16, 2002



"Los sesenta (espléndidos) años de una mujer que sabe cambiar"

“A Energia V espalha-se pelo mundo...”

"RESPOSTA" a um Artigo e entrevista do Diário de Notícias a Jane Fonda em 26 de Setembro.


Parecerá mal erguer uma voz dissonante perante uma “energia” que se pretende benéfica e revolucionária para a mulher, mas a mim parece-me que contrapor uma energia feminina a uma masculina e retirando o eufemismo, talvez não seja muito salutar confrontar o símbolo fálico com o “yoni” - para utilizar o termo indu - que evoca o princípio da sexualidade feminina e que na sua mística integra os dois símbolos como complementos de uma realização espiritual sagrada enquanto que o ocidente trata estes termos de forma dessacralizada e até aberrante e dar ênfase aos órgãos genitais seja do homem seja da mulher, parece-me um erro crasso. Principalmente porque o poder da mulher não está na vagina como afirma o movimento, mas no Útero e é esse útero e a Voz do Útero que confere à mulher a sabedoria e a receptividade do universo e não o lugar da sexualidade em si ou do prazer ou o que lhe queiram mais atribuir, mas que sem a consciência profunda do seu Ser a Mulher inteira, não chegará a ela e, portanto não chegará a nenhum lado e será apenas a contrapartida do outro e sempre em luta para se afirmar o que contraria a sua passividade criativa de receber e dar e não lutar de igual para igual com as mesmas armas em riste...

A mulher sendo ela própria e consciente dos seus dons inatos não tem que afirmar nem a sua sexualidade nem o seu sexo! Portanto esta luta de artistas americanas que continuam a fazer plásticas e praticar aeróbia 26 horas por dia e cortam costelas para Ter a cintura fina de adolescentes aos sessenta anos, para conquistar “o falo” dos homens, por mais percursos activistas e feministas revolucionárias que sejam, não me convencem. Sou radical com as mulheres que defendem algo para elas e continuam a querer agradar aos homens e ao seu esteriotipo...
As mulheres têm que se consciencializar da totalidade do seu ser e começar por integrar as três mulheres - a saber: a mãe a velha e a nova, aceitando na integra as suas etapas da vida respeitar a sua essência e não somente a sua vagina, como diz o artigo. Devem formar um coro de almas e de corações, unidas entre todas as idades e escalões sociais, rácicos e diferentes sexualidades, em diferentes culturas e países. Acho completamente absurdo sobrevalorisar o sexo seja da mulher seja do homem!
Os crimes e violações que as mulheres sofrem, não são porque se oculta o seu sexo e porque este seja mal conotado, bem pelo contrário, é pela exposição desonrosa e gratuita do seu corpo objecto e porque a mulher perdeu as suas principais referências nas sociedades pré-históricas em que o culta da Deusa e da Natureza era seu apanágio, o que restou às mulheres nas sociedades contadas e estudadas pelos homens é a sua anulação enquanto ser com um poder ancestral oculto e uma divindade negada pelos patriarcas das religiões que dividem o mundo e que fizeram da mulher o seu primeiro bode expiatório e escrava
!



Para mim o Dia V é ainda uma caricatura e uma armadilha do mundo falocrático que se afirma muito por baixo...Poderia dizer até antes isso que nada, mas sei que este caminho mais uma vez nos desvia do essencial e escamoteia as verdadeiras causas porque lutar! Se os homens dominam com o falo e violam as mulheres e as espancam como machos, considerando-se os mais fortes e são dominadores, não me parece que seja afirmando e escrevendo “diálogos da vagina” que as mulheres se imporão na sua liberdade e verdade superior. As mulheres não são as suas vaginas...Porque essa foi a atribuição que o macho lhe deu como buraco onde despeja os seus testículos quando quer, sendo a mulher uma espécie de penico multi-usos, mas reivindicar um poder da vagina...parece-me igual ao poder fálico...Poder por poder, de “igual para igual” ao nível do animal. Porque à mulher verdadeira interessa é ser um Ser humano inteiro e não dividido, é o seu coração que é importante e não porque “tem a forma dos seus órgãos” - que obsessão sexual! - mas do bater do universo e é a Voz das suas entranhas que lhe dá a percepção da terra e da lua e que lhe vem do Útero, insisto, e que lhe dá essa sua Sabedoria milenar de curar e tratar e também obviamente dar prazer porque essa é a maneira mais feliz de libertar e curar as almas adormecidas dos seres deformados por séculos de perseguição à natureza e aos corpos como pura expressão das almas e da terra em uníssono com o céu, na sua função mais sagrada de mediadora das forças cósmico-telúricas, papel que lhe foi roubado pelas religiões patriarcais e que ela à força de perseguições e mortes esqueceu. Mas que agora as mulheres venham reivindicar o “poder da vagina”, contrapondo-o ao poder do falo, para mim é triste...Pois a energia feminina de que se precisa não é a sexual em que foi explorada e de facto denegrida durante milénios, mas essencialmente da sua alma e do seu coração.
O poder da Mulher é muito maior que um simples aparelho genital...Pobres mulheres que continuam a fazer rir os homens que as vêm cair sempre nas suas armadilhas e teias, sem que elas se apercebam das suas contradições e enganos
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Rosa Leonor Pedro

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