O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, abril 18, 2003

ENTRE O CÉU E A TERRA





« AMOUR, COEUR, COURAGE:

COURAGE VIENT DE COEUR ET LE COURAGE DU COEUR C’EST L’AMOUR.

AIMER C’EST AUSSI ACCEPTER L’AUTRE AVEC SES LIMITES. »

L’homme entre Ciel et Terre
de Étienne Guillé




Vem e embala-nos,
vem e afaga-nos,


Vem Soleníssima
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar

Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Erbúrnea das Tristezas dos Desesperados,
Mão fresca sobre a testa em febre dos Humildes,
Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados.
Vem, lá do fundo
Do horizonte lívido




Beija-nos suavemete na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma.


(excertos da Ode à noite de F.P)

"Porque este homem era mulher na maneira de me falar "


"Encontrei-o uma vez ao pé de Jerusalém
e ainda o tenho assim no coração. (...)
Falou-me, como aos outros que estavam e,
eu vos digo sem que tenhais que crer-me,
tudo em mim se tornou a mãe de todo o mundo.
O que ele disse não sei o que era, mas fiquei sentindo comigo
que todos somos como irmãos pequenos
e que somos como mendigos que
se encontram por acaso na casa da estrada
onde os ventos sopram e se abrigam, abrigando-nos juntos
contra o temporal do mundo e do destino.

Minha mãe, como minha mãe, amava-me, mas este
falava-me dum modo que eu vi que ela não me amava de todo.
Senti-me como a criança que quer subir para o colo,
e chora no chão com os braços estendidos.
Porque este homem era mulher na maneira de me falar
pois parecia nossa mãe melhor;
e era homem porque falava como mestre;
e sempre no seu olhar haverá aquele outro que nos via"



FERNANDO PESSOA --INÉDITO

Sem comentários: