O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, maio 06, 2004

A PRIMEIRA ELEGIA

Quem, se eu gritasse, me ouviria dentre as ordens dos anjos?
e mesmo que um me apertasse de repente contra o coração:

eu morreria da sua existência mais forte. Pois o belo não É senão
o começo do terrível, que nós mal podemos ainda suportar,
e admiramo-lo tanto porque, impassivel, desdenha destruir-nos. Todo o anjo é terrivel
E assim eu me reprimo e engulo o chamamento dum soluçar escuro. Ai! de quem nos
poderiamos então valer? Nem de anjos, nem de homens,
e os bichos perspicazes reparam já que nós não estamos muito confiantes em casa
neste mundo explicado.

(...)
AS ELEGIAS A DUINO - Rainer Maria Rilke



suzanne gyse
VEM...


Beija-nos suavemete na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma.

E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiquíssimo de nós

De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena,

Vem e embala-nos,
vem e afaga-nos,

Vem cuidadosa
Vem maternal,


fernando pessoa

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