O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, agosto 13, 2004

COMO AINDA HOJE OS BISPOS E OS CARDEAIS CONTINUAM A LUTAR CONTRA A LIBERDADE DAS MULHERES, TAL COMO LUTERO AFASTOU MARIA, TODAS AS MARIAS SÃO APAGADAS DA SUA ORDEM...

QUEM VAI “querer ser igual ao cardeal Joseph Ratzinger”

"O que poderá estar por de trás ou pela frente desta curiosa 'Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a Colaboração do Homem e da Mulher na Igreja e no Mundo' emitida pelo Vaticano no sábado 31 de Julho de 2004?
(...)
"Porquê uma carta 'aos bispos' - todos homens, todos celibatários, todos não escolhidos pela comunidade dos fiéis, mulheres e homens, mas antes escolhidos a partir 'de cima' de acordo com critérios desconhecidos? Onde está a sua autoridade?

O que este documento revela é, a meu ver, uma série de não-ditos e uma profunda ignorância do quotidiano das pessoas concretas que habitam a Terra. Revela que os homens do Vaticano, isolados num mundo artificialmente masculino, onde as crianças não podem nascer nem florescer, não conversam com pessoas que os possam elucidar acerca do que eles apelidam de 'feminismo radical'. Nenhuma feminista se considera 'antagonista' dos homens mas antes antagonista do machismo. Não entendem que aquilo que as feministas desejam não é, sobretudo, ser 'iguais' aos homens - passaria na cabeça de alguma mulher, assumindo-se ou não como feminista, querer ser igual ao cardeal Joseph Ratzinger? Nem parecida! Que pesadelo!

Qualquer feminista que se preze sabe demasiadamente bem que o paradigma a imitar não é sobretudo aquele que garante um mundo destroçado pela guerra, pela fome, pela destruição ambiental, onde o poder económico e político se encontra a 90 por cento em mãos masculinas. "A rivalidade entre sexos" só existe na cabeça destes senhores.
(...)
Esta Carta aos Bispos também consiste, creio eu, num grito, mal disfarçado, de desespero: perante a afirmação das mulheres, perante o facto de as mulheres se encontrarem num processo de ocupação (que não usurpação) dos espaços físicos e psíquicos que lhes pertencem porque são pessoas. Sentem-se ameaçados, eles saberão porquê, pelos nossos talentos e pelas nossas realizações.
(...)
Graças a Deus, é caso de o reiterar com toda a energia, as mulheres não são imitações dos homens. Mas esta carta indica que alguns homens têm inveja das nossas capacidades: capacidade de reprodução; capacidade de trabalho constante e variado ao longo de todas as horas do dia e quantas da noite; capacidade de estudar, de pensar e de decidir; capacidade de cuidar dos outros e de si próprias; capacidade de sermos santas e de viver a espiritualidade no quotidiano."


Excertos do artigo “Católica e Feminista, Graças a Deus”
Por ANA VICENTE
Quarta-feira, 04 de Agosto de 2004 (in Público)

Sem comentários: