O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, setembro 06, 2004

NA SENDA DA POESIA...



Eu estava com as minhas companheiras, toda entregue aos misteres caseiros de cada dia.
Por que reparaste em mim e me fizeste deixar o fresco refúgio da nossa vida comum?

É sagrado o amor que se cala. Ele brilha como uma jóia na sombra secreta do coração. À luz indiscreta do dia, ele se turva lamentavelmente.
Ah! Dilaceraste o invólucro do meu coração e arrebataste ao seu mistério o meu amor, destruindo para sempre a sombra preciosa onde ele ocultara o seu ninho.

As minhas companheiras continuam as mesmas.
Ninguém penetrou na intimidade do seu ser; e elas não conhecem ainda o seu próprio segredo.
Elas sorriem e choram, acendem as suas candeias e vão buscar água no rio.
Eu pensei que o meu amor nunca haveria de sofrer a trêmula vergonha do abandono.
Mas tu desvias o teu rosto.

Sim, à tua frente o caminho se abre, livre: mas tu me cortaste a retirada e me deixaste nua diante do mundo que me olha fixamente, dia e noite, com os seus olhos sem pálpebras.



Paz, ó meu coração, para que seja doce a hora do adeus;
para que não seja uma morte, e sim o cumprimento
de um destino.
Vivamos da saudade do nosso amor, transformando em
canções a nossa dor.
Termine aquela fuga alta pelo céu num quieto fechar de
asas sobre o ninho.
Seja doce como a flor que se abre de noite o nosso derradeiro aperto-de-mão.
Espera um pouco mais, lindo fim do nosso amor: e dize-nos, no silêncio, as tuas últimas palavras!
Eu me inclino e levanto a minha lâmpada para alumiar o teu caminho.


R. Tagore

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