O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, novembro 19, 2004

A GRANDE LUZ SÃO AS MULHERES

“A nossa vida passa-se na bruma. A grande luz são as mulheres. Como as estrelas, elas continuam a brilhar mesmo quando já se apagaram há milhões de anos. Sem elas, este livro chamar-se-ia Almas Negras.”

O autor do livro Almas Cinzentas, Philippe Claudel, Prémio Goncourt, é quem o diz numa entrevista de ontem à Capital, um jornal que à partida merece a minha preferência pela sua isenção.


É bom saber que há autores contemporâneos a salientar um aspecto há muito descurado pela literatura em geral e pelos autores mais conceituados da nossa modernidade, incluindo as próprias escritoras que copiam o modelo masculino como padrão de normalidade, e em que se retractam de forma redutora, alheando-se da sua essência e apenas em função do homem, fazendo juz a uma sociedade que as rejeita em essência se assim não fizerem à partida. São elas “as filhas do pai” cujos discursos se inscrevem na tradição religiosa católica, mesmo as intelectuais que se julgam ateias ou alheias a essas questões de fundo, dando relevo a todos os valores de dominação ancestral patriarcal aceitando a sua canga ou em serem as marionetas dos seus jogos de poder. Mesmo quando se pretendem livres e emancipadas as mulheres seguem as filosofias e os psicólogos de orientação masculina, como Freud ou Lacan, por exemplo, lutando por serem “iguais” ou olhando os seus "complexos e carências" da perspectiva do homens, mestres e mentores...

A pretensa liberdade da mulher, nas sociedades ocidentais, afastou-as do próprio princípio feminino e dos valores que ao longo dos tempos, as identificavam ou associavam, ainda que remotamente, ao princípio feminino e á deusa-mãe e que os poetas elegiam como Musas. Eram ainda consideradas a força motriz do amor erótico e mesmo filosófico, as grandes inspiradoras de poetas e filósofos. Tal como Sofia, a Sabedoria que está por detrás do conhecimento, ou a Alma que está por detrás do espírito criativo...assim estavam as mulheres e todas as deusas que deram sentido ao Mito, e aos Arquétipos que explicam o mundo da Psique.

Com a ideia falsamente libertadora do “eterno feminino” que as feministas consideraram razão de atraso social e de dependência, desligaram assim a mulher de todo o seu lado místico ou transcendente acabando, hoje em dia, por encontrarmos na nossa sociedade, apenas mulheres masculinas a pensarem como os homens e a defenderem quase que exclusivamente os seus valores julgando-os seus também até na sua imagem esteriotipada de sexy símbolo. É assim que se travestiam ou vestem fardas , vão à guerra e são polícias e militares, damas de ferro...na política ou sindicalistas do sexo defendendo a prostituição como um trabalho...
As razões porque tudo isso aconteceu estão bem presentes nestes excertos que passo a transcrever.

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