O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, abril 23, 2005

O ABORTO, MAIS UMA VEZ

“Nunca disse que era simples. Digo apenas que estou do lado do “sim” à descriminilização.

Reconheço que a retórica usada pelo lobby pró-aborto é quase tão imbecil quanto a usada pelo lobby pró-vida. Quando ouço falar certas mulheres, que partilham a minha opção, apetece-me bater-lhes. Mas a fauna do outro lado da barricada, os intitulados pró-vida, irrita-me muito mais. O aborto é uma escolha difícil, dolorosa e complexa. É por isso que abomino a ideia de que o assunto possa ser usado para fins políticos-partidários. No entanto, devo declarar que estou contente com o facto de José Sócrates Ter tomado uma posição diferente da assumida por António Guterres.”

(...)
«Um feto é vida, apenas no mesmo sentido em que um animal ou um vegetal é vida; não é um ser humano. (...) A Igreja Católica pode dizer o que quiser, mas não pode impor a sua doutrina a uma sociedade laica.»

In Jornal Público de 22/4/05
Excerto de artigo de Maria Filomena Mónica

A REVOLUÇÃO DAS MULHERES:

AS MULHERES DE TODO O MUNDO DEVIAM INSURGIR-SE CONTRA UMA RELIGIÃO QUE AS NEGA, AS CONDENA E AS CULPA DE UM PECADO QUE NÃO COMETERAM...
É INADMISSÍVEL A MULHER, SOBRETUDO A CATÓLICA, ACEITAR SER ASSIM NEGADA NA SUA PRÓPRIA ESSÊNCIA E INTEGRIDADE E ACEITAR SER APENAS UMA “PECADORA” AOS OLHOS DE TODOS OS HOMENS E DO SANTO PAPA...


Seria um facto por demais absurdo serem os políticos e os padres a quererem resolver uma questão de fundo e de foro tão íntimo da vida das mulheres, não fosse a nossa realidade ainda de quase absoluto domínio de uns e outros sobre as mulheres que, ao longo de séculos, foram mantidas incultas e submissas, sujeitas a uma subalternidade aviltante e presas por medos e preconceitos religiosos totalmente desfasados da realidade dos nossos dias. Como sabemos todos, ( eu falo para as mulheres em princípio, mas em português “correcto” tenho de dizer “todos” e não “todas”) esta sociedade patriarcal e de domínio do “mais forte sobre o mais fraco” tem completa ascendência sobre a mulher, a nível cultural e religioso e quer por leis quer por instituições, mantêm-na prisioneira do sistema falocrático em que os homens sendo os chefes da família tem quase todos os direitos sobre as mulheres e crianças. É natural que esse quadro se projecte também para a política e para a igreja. Enquanto se compreende que os políticos, como pais e maridos, se possam pronunciar sobre a sua vida e sexualidade, é de todo descabido aos padres, bispos e cardeais falarem da vida sexual da mulher ou do homem e intervirem em nome de Deus ou da Moral, quando não têm qualquer vida sexual, para além de sabemos que os padres em geral não estão isentos das maiores aberrações e pesa sobre eles crimes sem fim contra a humanidade.

Falo da Inquisição e da tortura que durou séculos, mas também de todas as perseguições iniciais e intrigas papais e guerras, assim como das Cruzadas etc. Mas, o maior de todos os seus crimes é ainda a provocada alienação dos povos das suas culturas nativas e da natureza, nomeadamente a divisão da mulher em santa e prostituta, afastando-a de uma consciência do seu ser e da sua evolução, em nome de um Só Deus-macho, que morreu há muito e que eles mesmos, depois de crucificado o “filho do homem”, traíram os seus princípios de vida, amor e liberdade individual!
Traíram e continuam a trair ainda, sobretudo o amor e o respeito da Mulher Real.
Não o culto da Virgem-Mãe no Céu, mas a Mulher-Amante na Terra...
Eles, os patriarcas, elegeram uma mulher virgem e intocável a quem rezam e pedem protecção divina, enquanto a mulher real é excluída do sacerdócio, escravizada, explorada, violada e espancada pelos bons acólitos que pregam contra a sua integridade em todo o mundo católico.

“A distância entre a Igreja e o mundo moderno aumenta e nada, excepto a fé, permite excluir ou um fim ignorado e triste ou, mais provavelmente, uma nova insurreição contra a autoridade de Roma.”


VASCO PULIDO VALENTE

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