O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, março 20, 2006

OS POLÍTICOS...

O QUE É QUE MUDOU EM PORTUGAL DESDE 1867?

ORDINARIAMENTE todos os ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o ESTADISTA. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidade e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?
Eça de Queirós, 1867 in ‘’O distrito de Évora'’


OS ESCRITORES...

Da Serpente à Imaculada


«Para tentar apreender o segredo da pátria portuguesa mesmo num só fragmento, será permitido começar por vê-la como telúrica, infernal e oracular, salvífica e ainda limítrofe: como terra de fronteira».
(...) Mas, se é esta metade telúrica - e ela ainda, descendo às suas entranhas mais fundas, ctónicas - a que dominará o complexo mítico e existencial português, este surgirá desde logo, integrando uma bipolaridade, como união da Terra e do Céu. Hierogamia que por ela singularizará a nossa cosmogonia.
Como terra infernal, ela será votada a partir de seus primórdios, ao culto dos mortos e da fecundidade e ao poder oracular e salvífico, o que lhe é concedido pelas águas, as que em si detêm o conhecimento do futuro e as que também regeneram e purificam.

Ainda e sobretudo, vocação de terra limite, dada pela sua posição e fronteira dum Continente, sobre um abismo, o Mar Tenebroso, o das águas primordiais, da Noite, do Caos, dos monstros e do país dos mortos, ou Ilha dos Santos. Assim seus heróis dos que a mais marcaram na sua história ou lenda primitiva e ainda actual, serão Hércules, Ulisses e Orfeu: aqueles que desceram aos Infernos, o reino das trevas, dos mortos, da profecia e da regeneração.
(...) E para a nação portuguesa, marcando seu tempo sagrado por excelência: porque nos séculos XV e XVI, o homem vive concretamente o mito, realizando-o como rito, pela Descoberta.
(...) Como limite, junto a um território ignoto ou interdito, perigoso, defendido pela água, as trevas e os monstros inominados, Portugal teria em Sagres o ponto máximo, abruptamente cortado em falésia, que marcará o fim do mundo: ponto onde se encontra a terra dos vivos e a terra dos mortos, o conhecido e o desconhecido, este mundo e o Outro Mundo”.
(…)
“três dos maiores poetas portugueses que, sendo também dos maiores detentores e cantores do segredo da saudade, por si revelarão que aqui na terra portuguesa, foi pela saudade que esse caminho entre Terra e Céu, ou assunção da Terra, seria primeiro aberto, e possível de ser percorrido, nacionalmente pelo homem.”

Dalila Pereira da Costa

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