O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, abril 17, 2006

A MÃE CONTÍNUA, AQUELA QUE DÁ VIDA À HUMANIDADE E NÃO APENAS A MÃE DE UM INDIVÍDUO ISOLADO, ESSA É A GRANDE DEUSA QUE INICIAVA TODOS OS SERES, HOMENS E MULHERES, AO CONHECIMENTO DESSE MILAGRE QUE É A CONCEPÇÃO DA CRIANÇA ETERNA COMO UM ACTO PRIMORDIAL E CÓSMICO PARA TODA A HUMANIDADE.

(...)“A ideia colectiva do nascimento, - de um início de vida, sempre em renovação - reúne mãe , filha e criança numa mesma unidade representativa. Neste caso, o sentido de nascimento não é o mesmo do princípio normal, no sentido em que o nascimento se dá uma vez , mas no sentido de um acontecimento contínuo, como uma série de nascimentos. Na identidade mãe e filha, encontra-se a perpétua parturiente, a mãe enquanto ser permanente, na forma e no destino no qual o místico penetrou. A criança é o sinal tangível que prova ser essa duração um nível super-individual: o sinal de continuação do renascimento perpétuo do ser e dos seus descendentes.

Depois do Hino Homérico a Deméter, os poetas falam dessa certeza que os místicos adquiriam em Eleusis.

Na única condição de não ser culpada de homicídio, qualquer pessoa que falasse grego, homem ou mulher, indistintamente, podia ser iniciado nos Mistérios de Eleusis. Os homens também se identificavam com a Deusa. Compreender isto é o primeiro passo para se compreender o que se passava em Eleusis. Existem documentos históricos que demonstram que o iniciado se considerava deusa e não deus: (...) é preciso acrescentar outros testemunhos que mostram que, no quadro religiosos de Deméter, os homens “encarnavam” (viviam) o corpo da deusa.”

K. e C.Yung
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Isso significava que os homens “vestiam a pele” e a roupa da deusa se “travestiando” e inclusive usando, mais tarde as vestes das sacerdotisas de que Jean Markale fala no seu livro A Mulher Celta, quando diz que os padres usam nos rituais da missa essas mesmas vestes e paramentos que os iniciados/as usavam quando da Revelação dos Mistérios. Posteriormente, nessa linha e noutros cultos da Deusa, muitos homens se chegavam a castrar para melhor se identificarem e servir a deusa...

Passando este discurso antigo para actualidade profana e onde não há sombra de iniciação ou consciência da sacralidade da deusa e do corpo da mulher, e tão pouco do valor de um homem, este, sem saber lidar com aspectos do ser em profundidade, ao nível da sua Anima, ao começar a dar-se conta do seu feminino interno e sendo desde criança forçado a esconder esse outro lado de si mesmo, é natural que numa cultura superficial e meramente sexual, sem dimensão da sacralidade ligada à Deusa, se acabe por travestiar de mulher ou queira ser mulher mudando de sexo (no fundo castrando-se) acabando por se sentir como mulher em corpo de homem, ou vice-versa, etc.. Ora isso acontece muito em parte porque o homem é educado a ser apenas macho e penalizado se tiver uma sensibilidade mais pacífica e portanto menos bélica e se for incapaz de usar a força bruta, e se ousar usar expressões do seu ser no feminino, sentir-se-a “logicamente” mais perto do outro sexo quando a questão não é propriamente de foro sexual, mas de dimensão ontológica. Não havendo uma realidade que englobe o ser e a sua ambivalência “sexual”, a sua leitura é feita de modo redutor e simplista. No entanto, o ser humano, através da iniciação, podia desenvolver a capacidade de se ligar à sua alma, unindo e conhecendo em si os dois princípios, masculino e feminino e assim ligar-se ao seu EU superior fazendo a união com o cosmos, e atingir a sua totalidade. Facto que as religiões dogmáticas e vazias de conteúdo, condenam pela sua aberrante programação de um mundo e de uma Génese que começa e acaba no pecado! Pecado que significa apenas o desvio desse Conhecimento da Origem que só a Mulher essência e a Deusa podem revelar ao homem e que a Igreja do Pai condenou, mantendo a humanidade na mais perfeita ignorância e atraso, desviando-a persistentemente da consciência do seu ser profundo, negando-lhe o acesso ao mais antigo dos mistérios e à sua revelação-iniciação que é poder nascer e morrer sem medo nem pecado.
R.L.P.

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