O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, junho 14, 2006

“Algum dia voltarei à ideia de que as ideias são uma doença”
Camilo José Cela


SOMOS SERES EM MUTAÇÃO...


A perda das crenças demasiado caducas face a uma ciência que esclarece dogmas e das ideias como suportes para uma religião e moral ou ideal respectivamente, ou a simples queda das filosofias que orientavam o mundo e que lhes dava um suporte “ético”, através de pressupostos democráticos e outros, leva-nos por um lado à consciência do relativo que é a ideia de ordem e civilização a partir das ideias humanas, e por outro à desmistificação das mesmas e o que surge no seu lugar é o instintivo animal à solta e a ordem do mais forte que predomina nas sociedades bárbaras e patriarcais, em que impera a lei do mais forte, desde há milhares de anos.

Retirado o verniz (de ferro!) das culturas democráticas, socialistas ou comunistas voltamos ao domínio absoluto do mais forte que leva aos regimes e governos totalitaristas e bélicos, sem qualquer respeito pelo ser humano, homem ou mulher,estados ou países. Suprimindo a própria cultura no que esta tinha de elevação e procura do belo, como expressão do esforço humano para se encontrar acima do seu condicionalismo animal-mental, para a por ao serviço dos mercados e do que é vendável, quer de si próprio como imagem-ego, como o seu produto artístico ou outro. Suprimindo o espírito ou a essência como origem do ser absoluto, pelo culto do materialismo exacerbado, a humanidade fica à mercê de uma nova barbárie que é a forma como as novas sociedade bélicas que imperam pelo seu poder económico e armamento sofisticado dominando o mundo pelo consumo agressivo dos seus produtos e a violência das armas.
(…)
Urge neste momento apelar para todos os esforços de cada indivíduo, à sua consciência e criatividade a fim de tentarmos salvaguardar um qualquer princípio de ordem interior e valor intrínseco, humano e inato para chegarmos a um novo ponto de partida neste milénio que começa no meio do caos e de onde emergirão os seres de uma nova espécie - o andrógino - seres “mutantes” em que a mulher e o homem não serão mais e apenas o macho e a fêmea de uma raça primitiva que se julgou muito inteligente e civilizada e que nos precipita - quem sabe mais uma vez - para uma iminente destruição do Planeta e dos valores mais nobres que ainda nos restam e com os quais poderemos chegar a uma união verdadeira do ser humano com a sua componente divina que é uma consciência superior realizada na integração dos dois polos opostos complementares do ser (homem e mulher integrais) e dar lugar a uma nova inteligência baseada no coração!

Para que isso aconteça precisa a Mulher acordar para o seu potencial de maga e curadora das almas, mediadora entre o céu e a terra e novos laços de irmandade serem implantados neste mundo em que a vertente masculina da espécie dominou o planeta destruindo quase toda a fonte de vida poluindo e alterando os ritmos próprios da natureza Mãe.
Exaltar a compaixão e a aceitação das diferenças, em vez da competição e da guerra, distribuindo os frutos equalitáriamente e dando de beber a quem tem sede em vez de criar bombas atómicas em defesa de posses de territórios de um Planeta que é de todos e atenuar os conflitos permanentes provenientes desse desequilíbrio ancestral, remover os ódios e todos os velhos cismas que perduram nesta humanidade tão flagelada por ódios raciais e guerras santas com a predominância dos seus deuses de guerra sobre a Mãe Misericordiosa que sempre nos estende a sua Mão quando a chamamos. A mesma mãe que nos dá vida ao nascer e nos acolhe no Útero da Terra quando morrermos.

(Excerto da Cantata - artigo publicado em 2003 na revista Espaço & Design)
R.L.P.

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