O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, julho 25, 2006

HÁ MÁGUAS ÍNTIMAS...E HÁ AS VIROSES...

Encontro-me bastante engripada e sem qualquer vontade de escrever...
Deixo-vos o pensamento sempre actual de fernando pessoa


"Há máguas íntimas que não sabemos destinguir pelo que contêm de subtil e de infiltrado, se são da alma ou do corpo, se são o mal estar de se estar sentido a futilidade da vida.
Se são a má disposição que vem de qualquer abismo orgânico - estômago,´fígado ou cérebro.
Quantas vezes se me tolda a consciência vulgar de mim mesmo, num sedimento torvo de estagnação inquieta!
Quantas vezes me dói existir, numa náusea a tal ponto incerta que não sei destinguir se é tédio, se um prenúncio de vómito! Quantas vezes..."
(...)

Dizer! Saber dizer! Saber existir pela voz escrita e a imagem intelectual!
Tudo isto é quanto a vida vale: o mais é homens e mulheres, amores supostos e vaidades factícias, subtergúgios da digestão e do esquecimento, gente remexendo-se, como bichos quando se levanta uma pedra, sob o grande pedregulho abstracto do céu azul sem sentido.


27-7-1930


LIVRO DO DESASSOSSEGO
Fernando Pessoa

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