O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, novembro 19, 2006

HOJE MAIS DO QUE ONTEM…

Sendo mulher eu própria, muito deve estranhar o “vulgo” que eleja a mulher para o meu canto quer na poesia, quer na consciência que aqui partilho com outros seres todos os dias...O meu único fito é elevar a alma (a começar pela minha!) e o feminino por excelência quer na mulher quer no homem ao seu expoente máximo, sabendo que sem isso não chegaremos a nenhum lado e também sei que não será tarefa fácil nestes dias que correm em que se confunde tudo com genitalidade ou com a maior vulgarização do Eros e não se destinguem os sentimentos mais elevados dos sentimentos mais abjectos...

“Num mundo desnaturado que confunde genitalidade e sexualidade, depois sexualidade e e erotismo, o (verdadeiro) erotismo ou melhor a Erótica permanece reservada, hoje como ontem, hoje mais do que ontem, a uma elite. A Erótica não é este desespero que os humanos confundem com Amor quando eles lançam cegamente uma ponte sobre o seu próprio vazio, para não enfrentar a sua ausênica, em relação a uma imagem que eles próprios criaram sem disso terem consciência” (…)**

Eleger a mulher e fazer a sua elegia num cântico erótico-místico, procurando a dimensão do feminino sagrado e ao mesmo tempo denunciado o aviltamento a que ela foi votada no aspecto social e sexual e sendo ainda a mulher como é“Vítima da selvajaria, da brutalidade, do Horror sem nome da nossa Época",** e mais ainda ousar evocá-la na sua grandeza e beleza e ao mesmo tempo falar da sua realidade concreta, é facilmente razão para o sorrir escarninho de mal dizer ou de maldade gratuita tal como se viu, suscitar a mais banal das vulgaridades.

Sim, estes dias sem sentido ético, da mais completa alienação do ser profundo, em que só se vive e propaga uma sexualidade vazia e mecanicista, sei que não é nada comum, bem pelo contrário, evocar a essência do sagrado que a mulher em si transporta e mais a mais sendo eu própria mulher - em vez de denigrir o meu próprio sexo na outra mulher, como fazem em geral as mulheres - faça a sua apologia. Facto que leva a superficialidade do "senso comum" a confusões generalistas e para que não se confundam as dimensões, esclareço mais uma vez que faço a apologia da mulher na sua dimensão ontológica e do feminino sagrado e não exclusivamente da sua sexualidade, seja ela qual for ou por motivos de mera “preferência” sexual…
Porque:

“A erótica é um gesto sagrado fundamental, que não se ensina, que não se transmite, ele brota do mais profundo do SER, para além dos tempos, do Querer estendido em direcção ao Real”.**

Aqueles que não conhecem o Ser “Real”, o interior e o íntimo do seu ser, e portanto a dimensão da sua Alma (anima) não podem compreender o êxtase nem a contemplação nem a revelação do feminino sagrado.
“A mulher é por essência a animadora e a inspiradora,
É ela que faz jorrar a iluminação no coração do homem
E o homem tendo-se tornado consciente exprime-se como poeta,
Comporta-se como cavaleiro e age como Mago.
Mago-sacerdote que celebra um culto de que a mulher se torna Deusa.
A Mulher tornando-se ela, a sacerdotisa de um Deus
Que só pede abandono, liberdade e mistério.”**

Normalmente a mulher quando é elevada é considerada apenas a Musa para os poetas e a inspiradora, no dizer dos escritores…a Virgem para os católicos, a anima para os psicólogos, tal como refere o autor aqui citado.

Efetivamente assim foi durante séculos. Contudo, como mulher, pela minha própria experiência, relevo que é a mulher, como antiga sacerdotisa da Deusa-Mãe e não do Deus-Pai, não pede só abandono e mistério, mas é também a guerreira que aje e quer defender a vida dos dois lados do seu SER, e assumir o andrógino celeste que ela mesma é. A Deusa Mãe e a Amante Consagrada pela Deusa que a mulher esqueceu e anulou em si em função exclusiva do homem-deus-pai, quer como musa inspiradora, mãe de família ou dona de casa ou ainda a virgem no altar ou a prostituta na rua…

Agora, mais do que nunca, a Nova Sacerdotisa, a mulher emergente, “a mulher que vem do futuro”,*** não é já só o complemento do masculino, quer no plano prático quer o plano místico, mas também é chamada a realizar a sua própria complementaridade, aquela que une o yin e o yang em si mesma e pede um parceiro igual, não separando os dois lados de si mesma para viver apenas uma metade de si, e a outra reflectida no “outro” eternamente. Do mesmo modo que a mulher também o homem terá de assimilar o seu feminino interior e integrá-lo e não ser só activo e poderoso, ou “afemininado”, para que ambos os seres e o mundo ganhem com a dimensão do verdadeiro Eros filho legítimo da Deusa Artémis unidos pelo amor do Céu à Terra e à Natureza Mãe.

Para que assim faça sentido toda a criação e toda a criatura na sua unidade cósmica ou telúrica…
Para que o de cima seja igual ao de baixo, para que a não se separe a espiritualidade da matéria, nem o homem da mulher…

ROSA lEONOR PEDRO

**Thesaurus Magia de Valentin Bresle
**Citado In O LOUCO DE SHAKTI – REMI BOYER
*** Poema de Mariana Inverno

1 comentário:

Astrid Annabelle disse...

Por minha experiência Rosa, considero que só se darão bem seres inteiros e nunca metades...."Agora, mais do que nunca, a Nova Sacerdotisa, a mulher emergente, “a mulher que vem do futuro”,*** não é já só o complemento do masculino, quer no plano prático quer o plano místico, mas também é chamada a realizar a sua própria complementaridade, aquela que une o yin e o yang em si mesma e pede um parceiro igual, não separando os dois lados de si mesma para viver apenas uma metade de si, e a outra reflectida no “outro” eternamente. Do mesmo modo que a mulher também o homem terá de assimilar o seu feminino interior e integrá-lo e não ser só activo e poderoso, ou “afemininado”, para que ambos os seres e o mundo ganhem com a dimensão do verdadeiro Eros filho legítimo da Deusa Artémis unidos pelo amor do Céu à Terra e à Natureza Mãe."
Sem mais...
Beijos
Astrid Annabelle