O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, setembro 01, 2007

AINDA À SOMBRA DA CAÇA ÀS BRUXAS


Em Espanha, a morte de um jogador de futebol do Sevilha provocou uma comoção nacional. No seu enterro milhares de pessoas batiam palmas e algumas rapazolas choravam. Em Portugal aconteceu há dois anos ou três anos atrás um caso semelhante.
Durante dez dias, no Estado espanhol, morreram assassinadas três mulheres por antigos namorados: uma romena, uma brasileira e uma espanhola. Todas anavalhadas.

São os memos homens que choram a morte de um herói do futebol que matam a namorada à navalhada?...

Não admira esta secular desconfiança das mulheres por parte dos homens no mundo inteiro quando estes foram ensinados desde pequeninos que as mulheres são traiçoeiras e más...que por causa delas eles vivem em pecado...


"Porquê atacar as mulheres? Porque foram elas, durante séculos, acusadas de bruxaria, de pactuarem com o diabo entregando-se à cópula com a besta que lhes daria poderes sobre-humanos? Nessa desconfiança do feminino afastou-se na verdade a mulher do espaço político e da possibilidade de se expressar, de exercer poder, de destabilizar a hierarquia masculina vigente." *




Durante mais de 3 séculos a Igreja de Roma perseguiou as mulheres e matou-as como bruxas.

Qualquer mulher independente, qualquer mulher diferente, qualquer mulher que tivesse um dom ou fosse atractiva, que cultivasse umas ervas de cura, que ajudasse uma mãe a parir, era para os doutores da Igreja, bruxas perigosas, tortutradas e queimadas nas fogueiras da Inquisição.

Eles próprios inventaram e deram corpo ao Demónio, eles os muitos doutos e santos da Igreja católica, fizeram a maior perseguição às mulheres em nomes de crimes que estas nunca cometeram, acusando-as de copular com O Diabo - um ente que nunca existiu - e que a acontecer só podia ser com eles e cada um o próprio Satanás em pessoa...

Esta foi outra forma de crime que os homens cometeram contra as mulheres livres, sobretudo as mulheres solteiras ou viúvas...todas as que estivessem à mercê da sua paranóia!

Se hoje em dia isso ainda não se refletisse e de forma gritante como é o caso, não faria sentido escrevê-lo nem lembrá-lo, mas o facto é que a mesma Igreja e o mesmo Estado Moderno continua a cultuar os seus heróis machos - santos ou pecadores - e a deixar matar as suas mulheres.

Devo este pequeno texto à leitura de um livro saído recentemente em França, um estudo fantástico sobre a bruxaria e a caça às bruxas, o que significou e significa ainda como forma de diminuição e crime sobre as mulheres. Não é só o Inconsciente colectivo, mas a forma do próprio Estado Moderno e da Igreja que reflectem essas práticas sem as condenar...

Desde os padres da igreja que escreveram a demonologia - tratados inventados a provar os crimes das mulheres - até Freud que inventou ou repetiu a ideia da inveja do pénis, nada ou pouco mudou...


"O diabo é uma criação do homem. Datável a primeira referência ao diabo (no século XII), Robert Muchembled analisa as diferentes representações do diabo ao longo dos séculos. Da necessidade da Igreja em criar um ideia de inferno à obsessão pelo combate às bruxas e feiticeiras, passando pela ligação ao corpo e pelo emergir do conceito de demónio interior no século XIX, «Uma História do Diabo» afirma-se, essencialmente, como uma história das ideias." (outro livro a assinalar...)


Voltarei a falar do 1 º Livro, com o qual NÃO ESTOU TOTALMENTE DE ACORDO, MAS cujo título é verdadeiramente provocatório:

NOTA SOBRE O LIVRO:

* "AS PUTAS DO DIABO"

A mulher e o poder...As Putas do Diabo
[Armelle Le Bras-Chopard]

"O feminino e o poder. Ditas feiticeiras, partilhando um saber de poções e mesinhas na Antiguidade, são torturadas e queimadas na fogueira como bruxas a partir do séc. XV. Armelle Le Bras-Chopard, especialista em ciência política, com uma importante obra editada sobre o tema do poder e da sexualidade, distinguida aliás em 2000 com o Prémio Médicis Ensaio, edita um apaixonante trabalho sobre a caça às bruxas que durará até ao século XVII. Afinal, 80 % dos condenados à fogueira por conluios com o diabo e feitiçaria eram mulheres... Porquê as mulheres? Uma pergunta a que a investigadora tenta responder estabelecendo surpreendentes paralelos com a forma como ainda hoje, em pleno séc. XXI, as mulheres são afastados do poder e da arena política. " (...)


"Atenta à íntima ligação entre a sexualidade e o poder, e como se pretendia afastar a mulher da esfera política e do poder de decisão, retirar-lhe autonomia e fazê-la sujeitar-se às leis escritas pelo homem, a autora proporciona-nos um documento único sobre a história da mulher e da sua ligação ao poder. Indo aliás mais longe, considera que esse afastamento da mulher do espaço político de decisão não se teria milagrosamente sublimado a partir dos finais do século XVII. Detecta e aponta - de forma bem objectiva e rigorosa - como ainda hoje a mulher é definida face ao poder. Por isso «As Putas do Diabo» se revela um documento de apaixonante e actual leitura."

(cÍRCULO DE lEITORES)

4 comentários:

luz disse...

Rosa Leonor,

O que escreveu sobre a violência dos homens sobre as mulheres leva-me a fazer-lhe a seguinte proposta:
está na hora de, aquando da próxima mulher vítima de violência doméstica em Portugal, organizarmos uma vigília nacional! Acredito no impacto deste tipo de acções que, desde que mobilizados os meios de comunicação, têm todo o impacto.

Anónimo disse...

Aqui no Brasil, só no começo do ano no estado de Pernambuco, 199 mulheres foram assassinadas. Se fôssemos fazer vigília por cada brasileira assassinada pelos maridos e ex passaríamos todo o ano em vigília.
Essa é a realidade do Brasil e do mundo. Um abraço, Igaci

Marian - Lisboa - Portugal disse...

rRelativamente ao mito muito convenientememte criado de cópula das bruxas com o diabo para obter poder, até aí o misogenismo está em alta: elas NÃO tinham poder natural, tinham que se relacionar intimamente c/ o diabo p/ o ter... e fica mais um condicionamento mental que afecta pilares de vida de modo negativo: mulheres,conduta sexual,poder...
Abraço
Marian

Anónimo disse...

a vida nao feita de sorte ou azar e feita pelo destino da morte ao longo dela podes fazer muitas escolhas mas nuncas sairas do destino da morte.