O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, junho 06, 2008

A NOSSA OUTRA METADE...


OH estrela da tarde,dos astros todos, o mais formoso...
SAFO - FRAGMENTOS

“Duas irmãs abraçadas fazem uma pessoa forte. E é a maneira pelo qual consigo abraçar-me quando preciso de uma mãe e não há ninguém que me ajude: Eu a mim, como uma irmã a sua irmã”.
(...)


A nossa outra metade é mulher e não o homem…
O homem é o oposto complementar, mas a mulher tem de primeiro unir as duas partes de si mesmas cindidas, para poder chegar à sua totalidade.

Tenho perfeitamente noção do desafio que vos lanço ao fazer esta declaração algo insidiosa, e da possível controvérsia que possa suscitar, mas faço-o intencionalmente. A verdade é que a mulher encontra-se cindida em duas partes antagónicas e mantendo-se dividida em si mesma cria uma dicotomia da sua natureza sendo sempre ou quase sempre uma mulher metade que procura no homem a sua outra metade mulher e não o homem, e porque infantilizada ou imatura, legando sempre o seu poder pessoal nas mãos do outro, não pode ser ainda o complemento do homem. Como a mulher não está consciente da sua totalidade porque separada na sua essência, quase sempre fragmentada nos vários estereótipos que persegue exteriormente, não pode ser esse espelho do feminino profundo porque não está em contacto com ele. Desviada do seu centro, ela busca fora e no homem não uma complementaridade, mas essa parte que lhe falta …Seja a mãe, seja o pai, a autoridade que a proteja, seja a realização amorosa que amputada dela de si mesma nunca conseguirá atingir…tal como na maior parte das vezes acontece com o próprio orgasmo. Por isso, antes que a relação homem-mulher se estabeleça a mulher precisa reunir as duas partes cindidas de si e integrá-las. E isto é válido para as duas mulheres…seja ela a santa seja ela a puta…
Devemos no entanto realçar que este aspecto da integração do feminino profundo que a mulher precisa de consciencializar, tal como o homem aliás, nada tem a ver com a dualidade humana, bem e mal e que é comum aos dois seres, mas que acaba por ter influência na dicotomia da mulher.
O homem apesar de não se encontrar divido em dois nem fragmentado na sua natureza masculina, para além também dos seus estereótipos de macho, falta-lhe integrar o masculino sagrado que vem da integração do seu próprio feminino, mas não havendo o espelhamento dessa mulher inteira, dificilmente o homem pode reconhecer o seu feminino quer na mulher quer em si. O masculino sagrado é conseguido através da iniciação amorosa na revelação da mulher sagrada.

"O Vaso da Transformação só pode ser efectuado pela mulher,
porque ela própria, em seu corpo que corresponde ao da Grande Deusa, é o caldeirão da encarnação, nascimento e renascimento. E é por isso que o caldeirão mágico está sempre nas mãos de uma figura humana feminina, a sacerdotisa e a bruxa". (Erich Neumann)

Antes de se unir ao seu complemento masculino a mulher tem de ser iniciada ao seu próprio mistério e seguir o caminho da deusa e do feminino sagrado. Muitas vezes isso pode implicar ou pode ocasionar o encontro com outra mulher no exterior e que servirá de certa maneira de espelho. A atracção que muitas vezes as mulheres podem sentir umas pelas outras já no âmbito de uma atracção de cariz sensual ou erótico antes de ser definido como homossexualidade poderá ser sentido como manifestação numinosa do acordar da deusa em si, através de um catalisador que é a outra mulher se esta se sentir ligada à deusa e tiver já o seu feminino mais ou menos integrado. Creio que a maior parte dos casos dados como opção sexual não é mais do que o espelhar dessa outra parte que a mulher renegou consciente ou inconsciente da sua própria feminilidade ou sensualidade e também na procura da mãe que a rejeitou, na maior parte dos casos.

Há muitas mulheres que afirmam não gostar das outras mulheres e também muitas mulheres homossexuais que embora “gostando” de mulheres, são mais masculinas que femininas ou procuram o feminino fora de si adoptando a postura do homem cortejando mulheres mais femininas ou imitando muitas vezes o macho que conquista as mulheres mas as menospreza. É como que uma procura invertida do seu feminino ou uma negação dupla do seu ser mulher. É uma via de compensação para a sua ferida. Aqui eu não discuto a homossexualidade em si, mas uma possível causa na grande percentagem de mulheres que dizem amar as mulheres.
Não me quero debruçar agora sobre essa complexa questão, mas fazer notar que entre esses dois sentimentos de negação da outra mulher ou a sua busca fora, existem muitas manifestações emocionais igualmente complexas.
(continua)
Rlp

TEXTO PUBLICADO EM:
http://yinsights.blogspot.com/


7 comentários:

Lealdade Feminina disse...

Preciso ler com calma...
coisa que não dá pra fazer agora... vou lá pra ler tudo com calma depois...
Beijinhos
Bom fim de semana...
Beijinhos p Lilith...

Sirius disse...

Fiquei emocionada ao ler este post, pois é o que eu sinto e falo E, reconhecer minha fala numa outra voz...nossa , foi e está sendo maravilhoso. Senti-me fazendo parte de uma egrégora, senti-me face da Deusa, que manifestou a essência do feminino em mim.
Estou emocionada e feliz! Constatei que encontrei o meu outro lado.
Agradeço a vc, Leonor e a Paulo, um amoroso amigo que me deu o braço quando o caminho ficou por demais tortuoso.

Um forte abraço, de alma....

Maria Célia

Anónimo disse...

oi rosa.
em primeiro lugar parabéns pelo trabalho incansável, agora também no yinsights.
certamente a outra metade da mulher é mesmo a mulher, não o homem. apenas a mulher pode ser igual à mulher. e isso não tem a ver com escolhas sexuais, mas com irmandade, exatamente como vc colocou aqui.
é um passo enorme que a mulher procure as outras mulheres e não os homens para fortalecer e espelhar a si mesma. a comunidade entre mulheres é a coisa mais necessária entre mulheres, hoje.
grande abraço, querida.

Sirius disse...

passei grande parte de meu dia refletindo sobre eu e minhas relações amorosas, não me desorganizei, nem chorei ou afundei como outros tempos, mas pensei com maturidade e discernimento. Ontem descobri o seu blogg e fiquei encantada com o poema 'Não tenhas medo do amor". Atualmente tenho conversado sobre estas questões que vc aborda tão bem com um amigo, companheiro de buscas, mas não tenho conversado com mulheres , pois se rompeu o círculo e agora pretendo resgatá-lo. E, hoje ao ler seu texto, foi a letra que faltava, o elo, e fui paro o outro blogg e outro onde as questões egipcias estão presentes e eu sou iniciada em Kabalah egipcia, Kabaezt. Estive no Egito , com minha mestra e outros iniciados em jan/fev deste ano. E entrar no caminho está me ajudando muito e me presenteando com pessoas como vc..
Agradeço imensamente.

Anónimo disse...

Concerteza Juliana...você precisa de ler com calma...
A Lilith agradece os beijinhos, apesar de ser uma selvagem...
- beijinhos para o Teo e para si um grande abraço

rl

Anónimo disse...

Célia, fico muito contente por ter encontrado no que escrevo um eco. esse é o elo com a Deusa sim e o que me motiva a continuar, por isso as suas plavras são para mim também muito importantes. Temos concerteza muita coisa em comum pois eu também estive no Egipto em Novembro passado numa viagem iniciática...esto presa a uma memória como sacerdotisa de Ísis...e sinto-me próxima da Kabala. Também faço cura energética mas não gosto muito de misturar aqui as coisas...
Escreva-me se quiser para:
rleonor1@sapo.pt

Anónimo disse...

Anfíbia...obrigada pelas suas palavras e por ser uma das minhas amigas virtuais sempre presente e também através do seu trabalho persistente no seu Blogue!
"a comunidade entre mulheres é a coisa mais necessária entre mulheres, hoje "
Que esta nossa comunidade ou Círculo de mulheres cresça ainda mais mesmo que seja via Internet.

Um enorme abraço
rosa leonor