O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Ousar ser e escrever mulher

Epifania

“Olho para mim e vejo apenas amor.
Não imagino para habitação do corpo
Outra consciência
Senão a das coisas que são fontes”…


in Magna Mater

de Rosa Maria Oliveira

ESCREVER MULHER...

Ontem uma amiga contava-me que tinha estado com outra amiga, professora penitente e intelectual, mulher culta e esforçada nas lidas académicas e doutorais, sempre frustrada de não atingir o cume da carreira nem lhe admirarem o mérito...e então ela disse-lhe do meu novo livro, Mulheres & Deusas e ela ficou com um ar constrangido e de uma censura contida, senão desprezo, perguntou-lhe se eu era aquela fulana que tinha escrito um livro de poemas dedicado a mulheres...e deusas...

E de facto eu pensei que blasfémia, que arrrojo uma mulher escrever poemas de amor e de adoração à mulher e à Deusa Mãe...que obsceno uma mulher evocar o corpo sagrado da mulher quando ele é tão desprezado pelas próprias, usadas como parideiras ou como caixotes de lixo do esperma e de ódio, da frustração e raiva do homem e sede de doenças...

Sim que aberração trair a cultura do macho e o falo logo existo das mulheres pensadeiras e amar as mulheres na sua essência e cantar a beleza à flor da pele...e querer acordar as mulheres cuja alma está doente e adormecida e que ou é frígida ou ressabiada e odeia as outras mulheres, eternamente frustradas pelo abandono do homem, violentadas, divorciadas e abandonadas pelo senhor marido - seria o caso - de quem são pouco mais do que escravas...as cativas do pensamento cartesiano...dos seus mestres.
Elas são as devotas dos homens e dos fabricantes de palavras sem alma...das construções estéreis de palavras sem sentido e sem amor...
Estas mulheres intelectuais incapazes de amar ou sentir outra mulher, em competição permanente com "a outra", meias histéricas e devoradoras de um prazer fictício...mulheres incapazes de chegar ao centro do seu ser que é o coração e o utero de toda a mulher...
Pensei, sim, como é que eu ousei escrever poemas de amor da mulher e cantar o seu dom e ver a mulher como um ser sublime...
Ah! sim, que blasfémia! cantar a Mulher, o corpo e a alma da mulher, o sexo e sangue da mulher...sem se ser logo apedrejada e confundida com uma espécie de pecadora, sem que a anátema não cai logo e o exílio seja o único destino da poesia verdadeira, a poesia que canta a mulher e a musa, a poesia que canta a deusa como fonte do saber e do conhecimento, da vida e da morte...
A poesia que os homens já não cantam...porque os homens já não cantam nem a mulher nem a musa... Não, eles hoje só cantam o seu triste falo e o seu umbigo, o seu deserto falocrático onde estão perdidos e por isso o seu ódio à mulher e à Mãe...escrevem aquela poesia árida e vazia que nada tem a ver com a natureza e os sentidos, com o fulgor da Terra e a loucura das esferas em que eles rodopiam quando nos braços da Mulher e da Deusa Mãe...e eram iniciados aos mais altos mistérios...

rlp

2 comentários:

Anónimo disse...

Rosa,concordo plenamente quando falas da incompreensão das pessoas quando cantamos a mulher e o feminino,quando ousamos enaltecer a verdade e a beleza do Ser Mulher.Senti isto na pele,pois ao mostrar meu poema Alma Gêmea para meus filhos,eles "sutilmente" deram a entender que transparecia "meio" homosexual.
Será que uma mulher não pode enaltecer o Feminino,ou a beleza de outra mulher,sem que haja uma conotação sexual preconceituosa?
´Deixo aqui o meu poema
http://wwwjaneladaalma.blogspot.com/2008/11/alma-gmea.html
Abraços

Anónimo disse...

É verdade, há esse tabu do amor da mulher e não precisa de ser amor erótico, basta você amar as mulheres como a si própria e sentir na pela a sua identidade. Isso mostra como a mulher se nega e tem medo dela própria. Com o meu primeiro livro justamente uma professora de yoga, uma mulher austera e confusa nas suas relações com os homens, reagiu ao meu livro como se ele fosse um crime e ameaçou queimá-lo à pessoa que lho deu...ou emprestou. Como se odeia essa mulher...
como se odeiam as mulheres mas você as amar não pode ser senão lésbica...é isso que elas pensam porque só pensam em sexo. E não é o sexo que iomporta mas a essência da mulher o seu coração a nossa fraternidade para com elas. Isto não quer dizer que as mulheres não se possam amar como sentirem e quiserem. Por mim é mais importante o alma e o coração, mas o corpo e o sexo da mulher também podem ser um templo e são igualmente sagrados...

Como vê, parece que amar mulheres é crime...mas cabe-nos a nós que não temos medo das palavras nem dos preconceitos amar incondicionalmente o feminino eterno...
um abraço amigo
rosa leonor