O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, junho 02, 2009

Eco-feminismo: a esperança de um Novo Feminino


“O ecofeminismo sugere, portanto, uma terceira direcção: o reconhecimento de que, apesar de o dualismo natureza-cultura ser um produto da cultura, podemos conscientemente escolher a aceitação da conexão mulher-natureza, participando da cultura, reconhecendo que a desvalorização da doação da vida tem consequências profundas para a ecologia e as mulheres.”
Regina Célia Di Ciommo (Prof. da Universidade Estadual de Passos - Minas Gerais)


Num livro sobre Eco feminismo de que me fala uma amiga brasileira, fica claro e é muito evidente, diz ela, “que o problema da mulher é um problema de diálogo com as outras mulheres... e também na vida em geral, tanto que um capítulo do livro é inteiramente dedicado a destacar as diferenças entre todas as Ecofeministas mais activas, e da sua luta umas contras as outras, ao invés de unificar a luta, que no fim é a mesma”...

É nesta crucial evidência que as lutas das mulheres e do feminismo em geral, nas suas pretensas múltiplas facetas, morrem mais cedo ou mais tarde ou simplesmente abortam logo no começo… Enquanto a mulher não superar este antagonismo-inconsciência de si mesma (e não dualidade) que acaba invariavelmente por se reflectir na hostilidade às outras mulheres e em formas de rivalidade variadas nas relações afectivas, competição no trabalho, na criatividade e até paradoxalmente, numa admiração sem limites e por isso redutora de si, de uma líder, não chegaremos a nenhum lado. Enquanto a mulher olhar para outra mulher como rival, não pode haver a defesa de uma verdadeira causa comum…e muito menos uma defesa da Mulher e da Natureza como o seria idealmente a causa do Ecofeminismo…como esperança da união final e fraterna da mulher consigo mesma e com todas as mulheres e os seus filhos e com a Terra-Mãe, Gaia.

O drama da mulher de hoje, sobretudo a mulher que atingiu alguns patamares de afirmação intelectual, social ou económica, é justamente não querer reconhecer a sua divisão interior ou nem sequer se aperceber da cisão interna do seu ser pois está tão afastada dessa sua essência primeira que a move a si e ao universo, como das suas próprias entranhas e da Terra como Organismo vivo e fecundo…

A mulher dos nossos dias, vive completamente fragmentada e apenas ligada à sua mente racional, a sua mente educada para a lógica, reprimindo os aspectos intuitivos e instintivos do seu ser profundo. Ela vive por isso em conflito permanente com as suas emoções ou nega-as, porque isso aos olhos dos homens a torna inferior e irracional, histérica, e assim ela elege contra si mesma a filosofia e a lógica (cartesiana) redutora do homem e do universo e que a reduziu a uma metade…A mulher para ser integral tem de ser consciente de todo este processo que a divide e unir as suas duas metades cindidas pelas religiões, devendo a sua luta ir muito para além dos aspectos meramente económicos, sexuais, sociais e políticos que as feministas tomaram como referência única.

Não duvido da importância do trabalho e sacrifício das sufragistas no princípio do século XIX, nem das feministas em princípios e meados do século XX, mas sei que neste momento, no início deste novo século, urge uma nova consciência do ser mulher e que esta não pode deixar de abranger o Planeta e o Cosmos numa concepção mais alargada do que significa o Sagrado para além das religiões e mesmo aos olhos de uma nova ciência e porque se trata de uma Consciência inata e inerente ao Ser Mulher. Por isso uma Nova Dimensão do Feminino urge no despertar da consciência da própria essência do sagrado, dissociado de qualquer religião ou dogma, e emerge como essência nuclear e energética da vida em si, como o vulcão a despertar, assim como urge o reconhecimento da própria natureza e dos seus ciclos e de tudo o que nasce sem ser semeado por mão humana…

Para que essa consciência seja efectiva e transformadora a Mulher não poderá mais dissociar-se da Terra como uma força viva, a que se alia e em sua defesa, como se se tratasse das suas próprias entranhas. Para isso é fundamental reencontrar-se consigo mesma ligando-se à mulher ancestral, à mulher que era sábia e se regia pelos ciclos da natureza fiel às estações, ao ritmo dos mares e à Sombra da Lua, sua face reprimida e odiada pelos homens à luz do Sol Imperial…Os homens que ao negaram a sua Sombra, o seu lado feminino e lunar e a própria mulher, que dividiram a Terra em propriedade privada, destruíram assim a verdadeira dimensão do espiritual e do sagrado levando a humanidade, maniatada por sistemas totalitários e religiões dogmáticas e seitas fanáticas, a esta secura de alma a este vazio do ser que todos atravessamos, pela anulação da Mulher como Princípio do Amor e da Dádiva e da verdadeira Compaixão.

Se a mulher não acordar para si mesma e não se aperceber que a sociedade falocrática temerosa do seu poder interior a privou há séculos do seu ser abissal, do seu ser anímico, da sua verdadeira Alma, e até das suas entranhas, das profundezas abissais das suas terras uterinas, da sua intuição, da sua voz do útero, voz do oráculo, privando-a assim do seu lado instintivo e selvagem obrigando-a a viver à luz da lógica e da razão masculina, a mulher, a comunista, a intelectual ou a artista, a sufragista ou a feminista, não viu nem verá senão os “direitos das mulheres” no plano meramente sexual, social e económico, reivindicando uma igualdade num sistema em que nunca será igual nem semelhante, porque a mulher é diferente e é nessa diferença que tem de se afirmar.

Se ela não se afirmar nessa diferença, nunca sequer perceberá que a cultura que a cria é o apanágio da sociedade falocrática que a condenou a instrumento de procriação-prazer-produção e assim a vê, e acabará sempre por se submeter tacitamente ao poder do mais forte mesmo quando luta contra a sua dependência e subalternidade.

Enquanto a mulher não entender que é vítima de um processo mental-intelectual-filosófico em que foi e é paulatinamente modelada à imagem do homem, pela cultura patriarcal, (vista como uma simples costela de Adão) seja ele orientado numa perspectiva marxista-materialista-consumista ou espiritualista-religiosa-dogmática, é como se a mulher continuasse a aceitar ver-se reduzida a um ser-objecto, fragmentada nas suas funções, seja ora um ser sexual, ora um ser reprodutor ou produtivo, usada pelo mundo patriarcal, esclavagista, feudal, capitalista ou socialista, que a privou e à Humanidade da sua outra metade mulher, construindo uma Humanidade Homem ao longo dos séculos e fazendo da mulher um homem menor…ou seja, segundo os seus Mestres, um ser castrado e sem alma, com inveja do pénis… ao ponto de ela aceitar a mutilação do seu corpo, negar o seu sangue, a sua idade e até mudar de sexo…

rosa leonor pedro

Texto publicado no YINSIGTS:

1 comentário:

Unknown disse...

Bem inteligente e direto seu texto, gostei mto, vc disse tudo que sempre observei no nosso universo, quantas e quantas mulheres que conheci e apenas mto poucas que criei uma verdadeira amizade, mas mtas que acreditei que fossem amigas, ou somente colegas qlqer, percebia e via raiva, inveja, hostilidade por eu ser uma mulher, mto mais que no núcleo masculino, mas acredito que isto seja resultado da própria mídia, que sempre colocou todas nós contra as outras, ou seja, vc tinha que ser a mais bonita, ou mais admirada, para vencer e conquistar a felicidade, mas pergunto vencer o quê? se achar melhor que as outras p/ ganhar o respeito dos homens? que grande bobagem isso tudo qlqer mente inteligente sabe que temos que ser nós mesmas, temos que conquistar os nosso respeito, começando uma pelas as outras, sem invejinha, traminhas..afff... vamos ser como irmãs,viver no mundo terra com seus irmãos, respeitar e cuidar da Mãe natureza,e assim evoluir como Mulheres de Verdade!
bjinhos