O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, novembro 08, 2011

EM BUSCA DA MULHER

É A MULHER NA MULHER QUE SE BUSCA E ENCONTRA EM SI,
NÃO O HOMEM QUE A CRIA E DEFINE ARTIFICIALMENTE...

Como os psicólogos e psicanalistas
andaram à deriva durante anos…




A CONFUSÃO DOS SEXOS...

Sem a Mulher das profundidades não pode haver compreensão do verdadeiro feminino, nem da essência, logo do papel da Anima, …e mais uma vez, não só nas velhas religiões como na psicanálise moderna, os homens do “conhecimento racional” inverteram o sentido das essências masculino e feminino atribuindo o animus à mulher e à anima ao homem…

A NATUREZA DESCONHECIDA DA ANIMA É A NATUREZA OCULTA DA MULHER, é a sua natureza escondida e negada nos séculos de religião e cultura e ideias masculinas, de filosofias e da arte apolíneas, que provocaram um branqueamento da mulher original, da mulher ctónica; séculos de desmembramento e desfragmentação do ser mulher em si, da mulher inteira - a partir do momento em que a mulher foi dividida em duas a do lar e a da rua, e se tornou uma função mais do que um ser individual, esse apagamento e essa aculturação causaram uma ausência total do sentido do que é ser mulher como ente, projectando uma metade mulher, “ideal”, “moral” religiosa, artística, romântica, a mulher fragmentada que sobrou das muitas divisões seculares entre Eva, cada vez mais asséptica e vazia de entranhas …e Lilith, completamente esquecida e relegada para os infernos, pelo único deus reinante dos patriarcas, suprimidas todas as deusas, assim como o poder vivificante e destruidor das forças ctónicas a elas associadas. É dessa mulher anima varrida do consciente humano, soterrada nas memórias mais arcaicas que os homens da psicanálise e da psicologia das profundidades buscaram sem compreender que a mulher que eles conheciam era uma pálida imagem dessa mulher anterior ao paleolítico, da Mulher sacerdotisa, da Mulher Musa, da Rainha, da Mulher da Origem…
Assim, os melhores autores, e os mais conceituados, abordaram o tema da Anima como o feminino do homem e o Animus como o masculino da mulher sem perceber que a verdadeira Anima, o seu feminino profundo, estava completamente desligado da mulher dos nossos dias…e que tanto homens como mulheres não poderiam sequer equacionar a questão do feminino/masculino sem que a mulher resgatasse o seu eu profundo das profundezas do seu ser, do mais abissal da sua memória…e esse é um trabalho da Mulher e não do homem! Penso que por isso mesmo estamos completamente e culturalmente confusos/as com a identidade do ser humano e a função de cada um dos sexos.
Os homens da psicologia e da psicanálise tentaram resolver o seu problema do feminino em si sem nunca entender a própria mulher, essa, dividida e fragmentada pelos imensos estereótipos que lhes eram atribuídos pela cultura secular, ou por persistirem em ver apenas a mulher que a sua cultura e a “ciência” em que foram beber o seu conhecimento, lhes permitia ver; não entenderiam nunca que sem essa percepção da divisão interna e secular da mulher em dois estereótipos fundamentais, os homens não entenderiam nunca uma METADE DA HUMANIDADE, relegada para um plano funcional, dado que a mulher assim abordada não é senão uma metade de uma metade…e por isso incompreensível a nível da psique e do intelecto.
Por outro lado, a mulher cindida não pode compreender a sua própria natureza a verdadeira dimensão do seu ser, sem se fundir à sua natureza instintiva e inicial, associada as deusas primordiais, a grande Deusa e as sacerdotisas de outrora. Ela não pode ser inteira sem se unir à "outra" mulher...que é ela mesma!
Esse desconhecimento da Mulher de si mesma e da sua essência, levava o homem e o psicólogo a encontrar um vazio na mulher (dividida) chamando-o de Animus não realizado, (a sua própria experiência de vazio de anima) quando afinal o que sucede nas nossas sociedades foi ter-se "fabricado" uma mulher gravemente "animus" pelas ideias dos homens, as mulheres por si idealizadas, as puras e as perversas as fatais e as inocentes etc., as duas mulheres que conviviam nas suas sociedades, uma esposa e outra a prostituta basicamente, ou a concubina, com um animus que hoje é ainda mais mais acentuado e um yang elevadíssimo. O que nos falta de facto é a mulher Anima, a mulher essência, uma mulher inteira que inclusive possa reflectir ao homem a sua própria Anima e então sim poder ela realizar o seu animus de forma equilibrada e vice-versa. 
O homem pensaria e continua a pensar a mulher através do seus óculos culturais e vê sempre uma ou outra em luta interior por ser ora uma ora outra, nunca conseguindo assimilar a sua natureza profunda sem se dividir e despedaçar (o sofrimento inaudito das mulheres através dessa cisão é incomensurável) no conceito de boa ou má, nunca unindo as duas...tendendo sempre a corresponder ou à mulher séria que se expressava de acordo com as expectivas dos homens e os seus costumes, ou de acordo com a educação patriarcal, senhora menina recatada ou mulher ordinária da rua...

A mulher foi um instrumento de prazer e ódio submetida ao domínio do Pai durante séculos, sempre acorrentada aos ideias e vontade do marido ou do amante. Os padres e os médicos e mais tarde os psicólogos continuaram a dominar a mulher com os seus conceitos mais ou menos iguais. Hoje pensamos que a mulher é livre...mas é-o ainda ao serviço dos prazeres e interesse dos homens e de uma sociedade de consumo.

Sempre o homem a pensar a mulher, a reflectir a mulher, a idealizar a mulher, a descrever a mulher; nunca a mulher a ser por si só uma vontade, uma consciência...sem sofrer as consequências e o castigo paterno ou do deus misógino e cruel, que a consideravam um ser vazio e sem nexo, cheio de pecado.
Como exemplo do que dizemos acima temos a autora do livro de quem apresentarei vários excertos, citando Hillman:
Nós não podemos explicar esse vazio em termos de sombra inconsciente ou de Animus não desenvolvido (…) esse vazio devia ser considerado como uma autêntica manifestação arquetípica da Anima.”
Quanto a mim e neste caso inexistente…Os homens não podem sentir a Anima se a mulher não encarnar o seu feminino primordial e consequentemente as mulheres não podem integrar o seu animus…pois desse modo não há casamento alquímico…nem Obra. A Soror mística dos alquimistas é a Mulher Iniciada por Natureza, a Mulher total, a Mulher que inicia o homem aos seus Mistérios, pois a Mulher é a meditadora das forças cósmico telúricas. Não a mulher cultural moderna e actual, criada pelos homens e que prevalece na nossa cultura de acordo com os seus (deles) conceitos…e escolas!

rlp

O VAZIO DA ANIMA NO HOMEM NÃO É O MESMO VAZIO DA MULHER ANIMA

“Deram-se da Anima definições diversificadas. Há as mais simples, digamos simplistas; e há as outras mais complexas, digamos obscuras. Nada mais natural uma vez que a Anima cobre uma realidade psíquica infinitamente subtil.

Da maneira mais simples diremos que a anima é a projecção da psique feminina do homem, rosto do seu inconsciente ou do seu duplo, enquanto que o Animus representaria a natureza masculina, racional, intelectual ou autoritária da psique feminina.

Em Jung, a Anima é a relação com “o misterioso, o passado arcaico, suporte que permitiria um aparecimento da boa fada” da qual nos lembraremos ela estar directamente ligada ao destino, à profecia, ao fatum, à bruxa, à prostituta, á santa, associada com os animais tais como os pássaros, o tigre, a serpente, o cisne. Nós estamos aí em terreno conhecido com a Grande Serpente Lilith, a grande prostituta de Ishtar, as feras da Grande Deusa e Cybele, a feiticeira detentora de uma intolerável liberdade aos olhos da Lei do Pai Lei essa rejeitada por Lilith e as suas semelhantes, mas também com ela vem a outra verdade, a da iniciação, redenção, do lado da Santa ou da Sophia.

SÃO ESSES DOIS LADOS DA MULHER DIVIDA EM SI QUE OS HOMENS NÃO CONSEGUIRAM PERCEBER AS RAZÕES NEM AS MULHER IDENTIFICARAM AS CAUSAS. E ASSIM CRIARAM ESTA GRANDE CONFUSÃO...

Precisamente, “James Hillman, traz uma pedra importante à nossa construção afirmando que a fenomenologia da anima não se restringe ao sexo masculino e que existem “mulheres anima” que encarnam para o outro e para elas mesmas esses valores. Ele diz: “ As mulheres também perdem contacto com elas e podem ser levadas a meditar no seu destino, na sua morte, na sua imortalidade. Elas também fazem a experiência da alma e sofrem do seu mistério e da sua confusão.”
E acrescenta um pouco mais adiante: “Porque é que o mesmo comportamento se chama “anima” num sexo e no outro e natureza feminina” ou “Sombra” no outro.?”
Para Hillman, as mulheres têm “a profundidade da alma ou elas são alma (…) e psique, mas o sentimento íntimo de alma, não é dado à mulher pelo simples facto de ela ser uma mulher.” (…)

Se Jung vê a Anima como um “vazio”, Hillman precisa: “Nós não podemos explicar esse vazio em termos de sombra inconsciente ou de Animus não desenvolvido (…) esse vazio devia ser considerado como uma autêntica manifestação arquetípica da Anima.
(…)
Mas ao mesmo tempo, nós veremos mais longe, ela (Anima) como sendo a única via possível para a hiper-consciência verticalizante.

O desconhecido é também aquilo que torna evidente a natureza enigmática, inalcançável, e inacessível de Lilith. Ela é, seja “à distância”, seja “velada” como Ísis ou se descobrindo pelo abandono dos numeroso véus – como Humbaba ou Salomé, sempre instigante de fantasmas e de projecções múltiplas.

Citemos ainda Hillman: “É a este inconsciente fundamental arquétipo, ausência de luz, de moralidade, de sentido de conflito, de intenção (…) que Jung faz alusão em certas passagens sobre a natureza desconhecida da “Anima”.*

In Le Retour de Lilith

Joellle de Gravellaine

1 comentário:

Ná M. disse...

Simmm simm !!! Internalizamos o medo dos homenss ... o medo ....pq será? pq será que a mulher autonôma, livre...desperta paixões, amores fiéis ??? Eu vejo Sii m siiim !