O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, abril 18, 2012

A especulação mediática é um cancro em si mesmo




OS ANJOS NÃO TÊM SEXO?

"Poucos dias antes de completar 40 anos, a alemã Uta Melle ganhou um presente de grego. Soube que teria de extirpar os dois seios, por conta de um câncer de mama.
Logo veio a dúvida: "Será que vou deixar de ser sexy?". Teve certeza que não ao consultar o marido, um publicitário bem-sucedido que a presenteou com um quadro de uma guerreira amazona que cortara o próprio peito para usar melhor o arco e a flecha.
Animada com o desenho, Uta partiu para um projeto singular: fotografar mulheres com histórias semelhantes. O trabalho rendeu um livro de arte e a exposição fotográfica "Amazonas". São mulheres nuas, e a ideia é incomodar.”
(…)

INCOMODAR  QUEM?

Ao ler este texto não posso deixar de me insurgir pela questão ou como a questão é posta, como se para a mulher a sua integridade ou a sua inteireza passasse por ser sexy…Diria mesmo que esta doença que ataca as mulheres pelos seios e os úteros de forma implacável não seja senão em razão da sua alienação do corpo emocional ferido da mulher e da falta de sentido de vida mais profundo de uma mulher. Temo que a doença não seja mais do que o resultado deste aviltante tratamento das mulheres que vivem e aceitam viver como objectos sexuais e na base de uma imagem sensual, uma beleza estereotipada, ao Servico do imaginário masculino e das grandes empresas mediáticas e publicitários. Ou não fosse o marido da dita modelo ou actriz deixar de a usar mesmo mutilada e em função de uma moda e de um mundo que consome a mulher imagem como um produto e que neste caso pretende aparentemente “incomodar” sem se perceber a quem. De quem é a culpa afinal desta doença tão fatal estar a recair sobre as mulheres de forma tão drástica? E estas mulheres são amazonas de quê? Ela vai usar melhor o arco e as flechas para quê?

Com quem é que elas estão em guerra?
Uma mulher sem seios que ainda é bela?
E o que é que esta imagem angélica sugere?
Uma mulher que não tem sexo?
Uma mulher que apesar de mutilada continua sexy?
Ou apenas alienada de si mesma?

Eu não concordo nem partilho desta ideia comum, nem alinho com a promoção sexy da doença, nem com a publicidade da mutilação...A Mulher não é apenas o seu corpo nem o seu sexo e os seus seios; não devia ser apenas a beleza o garante da sua pessoa ou apenas a sua aparência a contar, mas sim a sua integralidade...
Para mim esta não é uma maneira de combater o cancro...mas uma maneira de continuar a alienar a mulher da sua essência...ao basear a sua sensualidade numa ideia estereotipada de beleza...e a perpetuar o conceito de beleza física e a exposição do seu corpo para consumo e venda de produtos mediáticos à custa da sua doença e sofrimento camuflado.

A especulação mediática é um cancro em si mesmo e mais grave do que qualquer outro, pois é ele que está na origem do verdadeiro câncer que aflige as mulheres em todo o mundo. É a alienação do SER MULHER em si e a sua integralidade que é a causa da maioria das doenças da mulher. É a sua cisão interna, a sua divisão e fragmentação como pessoa, que a adoece e faz vítimas de todas as doenças. Especular sobre esta mutilação é insano e repulsivo.

Promover e vender as imagens de mulheres mutiladas é tão escabroso como a doença que as não poupa…e o que estas e outras mulheres deviam fazer era tomar consciência das causas do cancro e não salvaguardar de forma alienante as suas consequências.

RLP
PORQUE ...

“Toda a abordagem (da doença ou da vida) é demasiado masculina, demasiado controladora, demasiado agressiva, demasiado invasiva.”

 “O que se agita em mim é a emergência de um novo padrão de referências pelo qual posso escolher aquilo que faço.”*

 * Treya - In GRAÇA E CORAGEM de KEN WILLBER

ADENDA

O Cancro do Útero ou dos ovários e seios, e os "seus riscos" e perigos vêm de uma estrutura social que desde o início de vida desvaloriza e reprime as mulheres na sua natureza intrínseca. Um sistema que as ataca sistematicamente em todas as frentes com químicos para consumo e uso aleatório do seu corpo e do seu sexo! O cancro é consequência de uma vida vivida só de um lado, só material, masculina, na negação da essência feminina. Na negação do seu valor como mulher inteira e integral...
O cancro é uma doença iniciática que ataca as mulheres no seu centro, no âmago da sua negação. O Útero é o orgão da voz negada às mulheres. A Força das Mulheres está no Útero. E porque a mulher é desvalorizada e a sua vida mais profunda não vivida, ou vive em conflito permanente, a sua verdadeira VOZ de dentro apagada,  ela sofre de doenças degenerativas com mais intensidade do que os homens.

O Útero é para a mulher a sua força vital, a coragem de ser e de falar, assim, como se diz vulgarmente que a força dos homens está nos seus testículos (vulgo: "tomates"...), a força da mulher está no Útero e ovários que os médicos lhe arrancam (ou as seios)  tantas vezes sem qualquer incómodo e mesmo sem risco maior, só por  prevenção…

rlp

2 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns, parabéns!
Disse tudo o que eu pensava!
compartilho contigo exatamente o mesmo pensamento.

Sou totalmente contra estes tais ensaios que só provam que a mulher é vista como um objeto!

Astrid Annabelle disse...

Uhuuu...sintonia total com você Rosa!!! Passei por um processo de cura, sozinha, de quatro nódulos grandes..dois em cada seio! A pergunta que me fiz na época foi: Para que preciso disso? Em dois meses fiquei completamente curada para sempre.
Nem vou falar mais nada minha amiga. Suas palavras são mais do que suficientes!
Adorei.
Inclusive, com a sua permissão, irei partilhar este post no meu blog.
Um beijo "repinicado" na bochecha!!!!
Astrid Annabelle