O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, julho 20, 2012

FEMINITUDE:


O RESGATE DA ALMA E DA ESSÊNCIA FEMININA



Vamos lá encarar os factos: As mulheres não gostam das mulheres, sentem-se quase sempre confrontadas umas com as "outras"...e se são intelectuais então ainda menos porque se acham elas as inteligentes e cultas e as "outras" para além de potenciais rivais se forem mais bonitas do que elas, estúpidas ou fúteis...essas mulheres dão sempre preferência à amizade dos homens, claro e acham natural que assim seja...afirmam-no categoricamente. Sem dúvida que assim é, trata-se de uma cultura secular...e daí o facto de haver uma mulher a fazer a apologia ou a elegia de outras mulheres resultar estranho e até suspeito. Eu sei do que falo porque não raramente isso acontece-me…Nem o que eu digo nem o que eu escrevo tem muita ressonância nas mulheres.

AS MULHERES em geral são de facto GINOFÓBICAS...

Elas não se sentem à vontade quando sentem afecto ou admiração por outras mulheres. Claro que eu falo sempre regra geral e podem acusar-me de generalizações, mas é isso que importa. Eu sei, como é óbvio, que existem mulheres que são amigas e se admiram e nutrem profundo afecto por outras mulheres. E não precisam de ser mães nem irmãs…nem precisam de ser amantes de mulheres, não precisam de ser “lésbicas” – pois porventura, estas podem mesmo ser das mulheres que menos gostam de mulheres apesar de as desejarem…Aliás o desejo tem sempre ou quase sempre fundamento na Inveja…


”Envier”* desejar, querer ser como a outra…e muito comum e não é por acaso que uma mulher que goste de mulheres, na mera acepção sexual, procure quase sempre uma mulher mais feminina que ela e o contrário…E também no ódio à rival há amor…desejo inconsciente. E não será também a atracção dos sexos opostos uma certa inveja do outro? A mulher do homem e o homem da mulher? Claro que os psicanalistas atribuíram à mulher a inveja do pénis, mas não mencionaram a inveja do útero e dos seios que leva tantos travestis a mudarem de sexo e a tomarem hormonas ou a usar silicone…Dir-me-ão que não são só os afectos e as emoções que contam…que há as hormonas a partida…e eu não nego que haja seres indefinidos ou homossexuais, andróginos, num plano mais místico, pois esse é um princípio inerente a todos os sexos (todos os seres humanos) a um nível mais elevado de consciência. E há também signos astrológicos hermafroditas psiquicamente falando. Como há seres que tendo o feminino e masculino integrados – os que lidam com a alquimia e a integração dos contrários) não encontram expressão sexual facilmente nesta sociedade que reduz tudo a macho e fêmea e o sexo ocupa um papel preponderante e alienante, para não dizer mesmo degenerado e promíscuo.

Não sou feminista nem lésbica (haverá sempre quem pense que sim), nem faço apologia de nenhuma sexualidade. Por um lado, o meu trabalho sobre mim mesma em mais de meio século e a integração dos opostos em mim, e por outro a idade ou a fase de anciã, a colmatar uma experiência de vida, permitem-me a libertação de certos ditames de ordem sexual e assim hoje ter essa consciência de que eu sou UM SER HUMANO E NÃO UMA PERSONA SEXUAL…No entanto continua a preocupar-me metade da humanidade às avessas...metade da humanidade ferida...

Os espiritualistas, escritores e mestres em geral, inclusive autoras mulheres que falam tanto da "criança ferida", esquecem sempre as MULHERES FERIDAS, por suposto todas elas todas as mães, por uma cultura secular que as antagoniza entre si, as separa e divide em estereótipos...E esta é a minha maior preocupação humana, este é hoje o Foco do meu trabalho assim como o foco da minha vida.


A FERIDA DA MULHER, a ferida da alma do mundo, é o que impede as criaturas, todos os seres em geral, que não são amados por uma Mãe dignificada e amada, de atingirem uma maturidade e um equilíbrio que só o amor maternal pode dar. E não me venham falar da importância dos pais, pois eles só se tornaram importante numa sociedade patriarcal e por toda uma psicologia de homens que no fundo desejariam ser mães…e voltamos atrás à inveja do Útero e dos seios…


No fundo É o Mistério da Mulher, o Mistério da Vida e da Natureza em que eles ocupam tão pouco espaço e pequeno papel, que os faz enfatizar e relevar o amor do pai e tudo anda à volta do Pai e do Filho sem ver que a Mãe, sem querer ver que a Mãe, é a nutridora por excelência e que se ela falha, falha tudo na vida de um ser à nascença, pois esse amor e cuidado maternal é fundamental para o desenvolvimento afectivo e humano da criança, tal como durante o período de gestação acontece que ele depende da placenta para viver …


Eu não digo que o pai não é importante, na medida em que ele pode representar a autoridade, a força, mas só se for uma autoridade benéfica que quase nunca o é, pois o AMOR maternal representa para a criança uma mais-valia na vida e para todo o ser humano que em nada é comparável com o amor do pai - um pai que nas sociedade ocidentais é infantil e tem normalmente ciúmes do filho e o penaliza. Digo que é por isso que agora se exacerba tanto e enfatiza o papel do pai amoroso ao mesmo tempo que tentam apagar a importância do papel da Mulher e da Mãe e no caso da mãe solteira a desprezam. Falo obviamente de uma sociedade ocidental e patriarcal que antes ainda tinha lugar para a mãe negando a mulher mas que agora tenta a todo custo apagar também o papel da mãe.

Assim, na sociedade ocidental e de influência religiosa “cristã”, considero que é da maior importância devolver à mulher a sua natureza primeira, antes de mais e depois o seu legítimo papel de Mãe e de amante na vida da sociedade, sem essa divisão milenar da esposa legítima e da prostituta. E não é com deveres e direito iguais dentro de um Sistema injusto à partida e cruel, um Sistema que explora os seres e a mata em guerras, que usa armas mortíferas e impiedosas contra os seus próprios povos, que reduz a nada as mulheres, que as viola e abusa de crianças, em todos os sentidos que o vamos conseguir. Daí divergir inteiramente das feministas e das suas pretensões de uma igualdade das mulheres. Não é essa condição “igualitária” que, se recusando a ver as diferenças de natureza existentes entre os seres, chega a atribuir às mulheres um papel propriamente masculino, o que está aliás manifestamente na raiz de todo o “feminismo” contemporâneo”. (René Guenon)

Não é isso que nos interessa, uma mulher masculinizada, com os defeitos e qualidades dos homens…mas a nossa completude, a nossa dignidade enquanto seres femininos em essência. É a Mulher mística por excelência que urge resgatar através desse feminino essencial, relevar sim a nossa FEMINITUDE…o que há de mais profundo e sagrado no SER MULHER!

Essa é a nossa tarefa e de forma tão mais abrangente e transcendente quanto possível. A Mulher é a origem da vida e toda a vida na Terra se manifesta através da MÂE…e não há lugar para um “transfemismo” aberrante baseado na divisão das mulheres e alimentado por estereótipos masculinos.

É A Mãe do Mundo, a Alma Mundi, essa Alma e essa Mãe e Mulher que todAs temos de resgatar dentro e fora de nós para poder salvar o Planeta e a Terra…

Rlp


*(em francês envier é simultaneamente desejar, querer e invejar, depende do sentido que se lhe dá)

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