O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, dezembro 21, 2014

CASSANDRAS VOTADAS AO DESCRÉDITO...



- Esta rapariga é maluca!
 
  Sem medir o excesso daquilo que dizia e do demasiado que adivinhava, Cassandra era uma menina esquivosa, com a lividez das velas dos altares, de quem as pessoas se afastavam, supersticiosas, temendo que tamanha afoiteza a pudesse levar a devassar-lhes o olhar maldoso, encontrando no lodo desse fundo os muitos pensamentos de inveja e traição, de ódio e sordidez que escondiam nas mentes e nos corações mirrados, sempre temendo que Cassandra, ao desco...
bri-los, os tornasse visíveis diante de todos.
- Ela consegue adivinhar o que nos vai na alma - preveniam-se uns aos outros, temendo-a; embora sem jamais confessarem com clareza o medo que sentiam dos seus poderes divinatórios. E menos ainda dos seus poderes proféticos, que constava ela possuir no devassar do passado e no desvendar do futuro; embora admitissem a possibilidade de Cassandra poder escutar-lhes as falhas, as faltas culposas, pela calada da noite.
Então tentavam desacreditá-la, afirmando no disfarce da raiva:

- Esta rapariga é maluca!

(...)

Maria Teresa Horta / Meninas

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