O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, abril 20, 2015

O AMOR É UM JOGO...


O AMOR...PERDIDO...


"Percebendo que fora traído, Eros enlouquece, e foge, gritando repetidamente: O amor não sobrevive sem confiança!
Psiquê fica sozinha, e desesperada com seu erro, no imenso palácio. Precisa reconquistar o Amor perdido." Wikipedia.

"Quero dizer, o amor é sensualidade e jogo e irresponsabilidade e hedonismo e fazer disparates, e chega a ser pensado em termos de dependência e a pessoa sentir-se cada vez mais fraca e entrar nalgum tipo de escravidão emocional e tratar o ser amado como uma espécie de figura paterna ou irmão. A pessoa humana reproduz uma parte do que era em criança quando não se sentia livre e estava completamente dependentes dos pais, especialmente da mãe." - SUSAN SONNTAG


É dramática a forma como o ser humano acaba por fazer esta projecção noutro ser humano ao reproduzir uma parte de si como quando era criança e o da sua suposta relação com a mãe como dependência e suporte, seja na presença do seu amor seja na sua ausência - e eu vejo cada vez mais a forma dolorosa como nos projectamos no amor do/a outro/a - que é um mero jogo em que ganha quem melhor o souber jogar, sempre o mais forte, sempre o mais astuto, frio e calculista, como é o sedutor ou o carente de amor, manipulador quase sempre, consciente ou inconsciente - e é sem dúvida terrível como sofremos - sobretudo as mulheres - toda a impossibilidade que esse amor é enquanto factor de estabilidade emocional ou referência de segurança afectiva que todas nós buscamos num ser amado (sempre uma projecção) e mais que não seja porque ansiamos essa compreensão única do nosso ser ou a cumplicidade do afecto humano, como se alma pudesse ser tocada por outrem...e nunca o é.

A alma é só...por isso a alma não pede amor...ela é já o amor em nós, o nosso duplo, (o Ka) pois não há alma gémea fora de nós ...nem uma alma afim, como sonhamos, apenas ecos momentâneos ou fugidios em que espreitamos por um mesmo canal invisível - como que uma corrente telúrica ou cósmica, o infinito que nos habita e é intransmissível - e cegos/as nós confundimos isso como o amor do outro/a, que nunca nos corresponde pois havendo sempre o mais forte e o mais fraco... o amor é apenas jogado numa luta de forças entre opostos e contrários nem sempre complementares...e às vezes adversos, quase sempre, quando não um jogo de morte entre macho e fêmea...ou de poder...em que entra Narciso e o seu Eco...e é pura miragem...

A mim também me parece, tal como diz a autora da citação inicial, que o amor passional, o amor a dois, é sempre um jogo...que devia ser jogado entre adultos, de forma lúdica, porque sumamente perigoso, às vezes uma roleta, em que se morre e mata conforme os nossos desejos e carências ou a nossa crueldade. O amor - esse amor em que nos projectamos como uma forma ideal de união, sagrada ou profana, não existe...e é por isso trágico...sempre que somos apanhadas na sua armadilha...Eros mente ilude e engana...
Sim, o jogo entre Eros e Psique é uma luta insana em que um ilude o outro e ambos são cegos em relação ao outro...e quando a Psique quer ver a face de Eros na noite escura (da alma) à luz da vela...queima-o e o amor morre, impossível, torna-se cruel ou déspota como só ele o é... E a pobre Psique é abandonada e depois castigada por Afrodite, a implacável Deusa do Amor que preside a contenda...e que só ama o jogo...pelo jogo...
O amor a dois como o idealizamos há séculos não existe...nem o amor romântico nem o moral ou o ideal, mas ainda assim mergulhamos vezes sem conta nele e passamos uma vida inteira desesperadas em busca fora e na sua face escura, tenebrosa, à espera de uma luz que ilumine o amor que sonhamos...o amor da nossa Mãe ou da Mãe eterna...Queremos voltar ao Paraíso de que o útero é a portal mais secreto e recente na nossa memória na carne; queremos  regressar ao paraíso perdido...ao fundo das águas matriciais, onde vivemos antes de nascer resguardados/as, e depois caímos neste inferno que é esta vida dual na matéria, feita de paradoxos e de amor e ódio e dor em que a ferida é aberta desde que nascemos e nunca fecha e por isso nos dilacera e assim, buscamos na alienação de nós mesmos/as, enlouquecidos/as, um amor de alguém ou de algo a que nos agarrarmos como uma boia de salvação...mas nunca o veremos fora...nunca, tal como nõa veremos deus... porque o amor apenas existe dentro e espera ser descoberto na sua face interna e não exterior;  nem que seja na morte, quando estamos de volta à origem...seja a terra tumba para quem não acredita no além morte seja noutra terra que inventamos como céu...
Mas é a descoberta do nosso ser tripartido - corpo alma e espírito - a saída e só esse amor interior que se revela quando emana de nós, sendo o nosso guia interior  e que não tem objecto de amor fora, nem precisa  de credos, mas que vibra dentro porque tem um centro, que sendo a origem, é o principio o meio e o fim e o único que nos pode guiar na vida e na morte ...É essa a única porta de saída... para quem AMA e busca o AMOR...que só se encontra quando cessa o jogo, todos os jogos...e depomos as armas e as armaduras...e passamos da mera existência para nos entregamos à Essência.

rosaleonorpedro

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