O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, outubro 10, 2015

a alma e o corpo...




"Fora das discussões metafísicas, existe uma experiência profunda do ser, em que se sente a consciência encarnada. É um estado em que todas as células funcionam em uníssono presentes em todas as sensações, quando se está com outra pessoa, até parece que há fios que nos unem, e que podemos mostrar e ver a alma. Não é um estado fácil de experimentar, porque quase todos vivemos com partes de nós dissociadas. No dia a dia, talvez um braço e umas costas pertençam a uma menina abusada, uma perna tenha o impulso da sobrevivência, e as costas defenda todo o peso do mundo.
Não obstante, podemos viver momentos de lampejos da alma, como quando conhecemos alguém e nos enamoramos profundamente (será por isso que esperamos tanto esta experiência?), Ou um momento de felicidade, ou de triunfo perante uma adversidade, ou no nascimento de um filho, ou no nosso próprio renascimento após um trauma.
O triste na vida é que esses ventos fortes de aroma de alma são escassos. Os esforços do dia-A-dia nos voltam a dissociar e colocar de novo as defesas em marcha face aos perigos imaginários, por essa memória cruel que nos separa do presente. Os amantes já não se mostram a alma, mas agora surgem as espinhas na pele, as garras nas mãos afiadas. Uma pena. E então começamos a desejarmos algo externo, um outro amor, uma outra paisagem, outro milagre que nos volte a encarnar a alma.
Precisamos de coragem e recuperar a alma. Não uma espécie de fantasma que vai ou vem, mas esse impulso vital que orquestra as nossas células e lhes faz tocar uma melodia em uníssono, harmonioso. E então, o braço já não é uma barreira, nem as costas uma defesa ao mundo, nem são usados para se protegerem. E sobrevem o gozo. Talvez por isso a linguagem do amor e dos místicos se parece tanto."



Texto de Ana Cortiñas Payeras

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