O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, outubro 24, 2015

A BUSCA DO PRAZER...


FALL IN LOVE...

(aviso que poderei estar a ser radical demais...)

"Quando a mulher durante milénios foi única e exclusivamente reduzida à reprodução e à serventia do homem - a sua própria existência, a existencia da sua alma, foi causa de discussões em concílios e tratados métafisicos - não é de admirar que ela não saiba quem é e muito menos o papel que ela tem na evolução do mundo. Também não admira que a única referencia seja o masculino; Afinal, se a mulher não existe, o que é que eu, mulher, poderei ser? Haver mulheres que se anulam ao incorporarem os códigos masculinos é quase passagem obrigatória. É o caso dos movimentos feministas que partiram dessa não existencia e que por isso adoptaram aquilo que era conhecido, ou seja, o mundo dos homens. Com isso rejeitaram atributos importantes que fazem parte do mundo feminino (aqui pode-se dizer que deitaram fora o bébé com a àgua do banho)." Ana Vieira


Estava a pensar, tal como esta amiga diz,  em como nós mulheres durante séculos vivemos exclusivamente presas do ideal do homem (ou o casamento solução económica, destino) como único sentido e razão para a nossa vida e como agora vivemos inteiramente debaixo da pressão da busca do amor de um homem e sem o qual não conseguimos ser gente...sem ter qualquer consciência de nós mesmas como UM SER que vive por si sem apêndices.

Não conseguimos encontrar o nosso centro, a nossa essência sem o homem ou o filho a preencher-nos...Casar e ter filhos ainda é o imperativo do Sistema que nos aprisionava à função reprodutora ou de prostituta...Passados tantos anos de luta "feminista" por igualdade e liberdade, não conseguimos ainda termos existência própria e viver a vida apenas como indivíduos singulares, independentes, tal como o homem sempre fez...porque somos hoje já não tanto  e apenas "a mãe e a esposa", mas prisioneiras desse mito recente  ou desse sonho de um complemento amoroso, de um outro ser que nos domina o pensamento e  achamos que apenas só "ele" colmata as nossas carências e faz de nós seres inteiros e ser essa a única forma para nos sentimos vivas e vibrar,  quando só por nós não temos sentido e o vazio nos domina as horas do dia e  às vezes a vida inteira, mesmo tendo uma profissão activa e exaustiva.
Por isso caímos hoje em práticas sexuais aliciantes, com utensílios e chicotes, ou praticas orientais, como o Tantra, na ilusão de que o sexo e o prazer são a única coisa que faz sentido na nossa existência. Ah o orgasmo - como o divinizamos...a essa pequena morte...E passamos da frigidez ou da "castidade" caseira, da obrigação de servir o homem das domésticas, à sexualidade compulsiva de obediência ao desejo sado-maso masculino das executivas e universitárias, passamos  de sermos meros objectos de desejo para sermos então as "sacerdotisas do amor" que sabem truques sobre como dar prazer ao homem ou o manter preso a si e agarrar...
Julgamos que estamos a evoluir...mas  apenas projectamos uma ideia de sexo "espiritual" (a Kundaline?) que resulta na mesma dependência que temos da posse (possuir ou ser possuída) e da dependência dos homens, sejam mestres ou "facilitadores"... na vida comum patriarcal, e sim continuamos sob o seu domínio..."espiritual"...e o que  muda é que agora usamos outro nome para a nossa dependência e chamamos-lhe "sexualidade sagrada"...

Libertamo-nos de uma condição e ficamos presas de outra...

Nas mulheres jovens eu entendo a sua apetência, a sua busca do sexo na fase mais acesa da sua vida...nomeadamente a fogosidade das Afrodites...mas a mim o que me custe mais é ver  as mulheres depois dos 50 ou 60 e mais,  à espera ainda do parceiro ideal...(já não o marido, o 2º ou 3º,  ou o príncipe-sapo),  nestas ondas new age na busca da "alma gémea" ou o "par alquímico"...etc. como se nós sozinhas não pudéssemos sobreviver e viver à nossa custa, eternamente prisoneiras do amor sexual...e de um prazer ilusório, porque efémero...Vivendo esta obsessão, esta enfase permanente, esta tónica constante na sexualidade...e pouco mais!

O que se passa com a mulher madura, com a mulher experiente?

Sim, penso  nesta vantagem que temos de viver mais 20 ou 30 anos depois da menopausa buscando e dando um outro sentido a nossa existência. É certo que o facto de ter já uma "certa idade" - embora perceba cada dia melhor que nada em nós envelhece senão o corpo e só muda a nossa aparência...- vejo bem por mim mesma o quão difícil é consciencializar este movimento secular em nós...o difícil que é libertarmo-nos dessa compulsão, para darmos lugar aquilo que em nós é potencial e verdadeiramente sagrado: A essência vitalizante do nosso útero e do que é só nosso por herança genética, memória de deusas e xamãs e fazermos então um trabalho bem mais alargado do que a busca do nosso prazer sexual...para podermos enfim dar lugar ao nosso ser inteiro e à nossa alma, à nossa integridade como mulheres e assim podermos caminhar para uma verdadeira realização interior que não depende do amor de ninguém para sermos, seja de um deus, seja do amor de um homem (ou mulher)  seja do amor sexual ou da libido...
E contudo sei muito bem  e compreendo como é fácil cair na tentação de continuar a acreditar que é desta que nos amam e encontrámos o tal "par alquímico" (o nosso complemento na eternidade? o nosso DUPLO, O NOSSO KA...o nosso ser divino, mulher ou homem, pouco importa, que existe, mas noutro plano?) e que a nossa "cara metade" nos levará às alturas e ao sétimo céu...sem ver que ele ou ela, não é senão  "o/a outro/a" que está fora e nos espelha apenas a mesma ferida da encarnação, a mesma carência e a mesma dor...a mesma incompletude de Ser!
Sim, sei como é fácil deixarmo-nos embalar na musica ou na "canção do bandido/a"...nas suas musicas sensuais e exóticas, nas suas baladas, nos mantras e mentiras que nos contamos para adiar essa solidão e essa grandeza de sermos apenas nós e sós numa dimensão bem mais elevada do que a nossa limitada ambição de amor tão humana...e tão baixa...sempre a cair da ribanceira abaixo - sim: "fall in love"...cair apenas, cair na armadilha que nos afasta do nosso centro e do nosso próprio ser...mas nunca subir uma oitava acima...
Na verdade só quando caímos mesmo é que nos damos conta da loucura do ser humano...especialmente da mulher ...e não será essa a sua QUEDA?
Sem dúvida que é uma Queda...mas não é a culpa da mulher - e essa é outra história que não entra neste texto.
MAS ATENÇÃO: Eu não nego o erotismo nem Afrodite ou Dionísio e os seus jogos, não nego mística da busca dos Fieis do Amor, nem da Musa nem da Deusa... nem portanto as relações ditas amorosas, a busca de um par (amante ou marido) mas apenas recuso esta enfase colocada totalmente nelas...Porque vejo o amor a dois como uma relações de partilha - como espelhos - e não de consumação absoluta e eterna ou única forma de sermos mulheres...e entendo que há um momento em que o ser humano, mulher ou homem, sendo mais velho/a, se deve virar para a sua vida INTERIOR , espiritual (o ciclo de vida e morte) depois de ter esgotado uma vida material de objectivos terrenos...
rlp

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