O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, abril 27, 2016

A Amizade entre mulheres



 Ou a Lealdade feminina...


(excerto de texto publicado em 2002)


(...)
Durante anos e anos as mulheres traíram-se umas as outras pelo amor de um homem...fosse o pai, o marido, o filho ou o amante...
Durante anos e anos as mulheres traíram a confiança umas das outras para obter a atenção e os favores de um homem...durante anos e anos as mulheres traíram a melhor amiga para conseguir um emprego ou um lugar de destaque na firma ou nos bastidores de qualquer palco…
Durante anos e anos as mulheres traíram a sua essência e foram piores do que Judas na vida umas das outras...sempre prontas a denunciar a incriminar a mandar para a fogueira as suas rivais…as mais ousadas, as mais bonitas, as destemidas, as mulheres corajosas e as que se atreviam a quebrar as algemas com que a sociedade e as religiões as agrilhoou…

Como é famoso o antagonismo entre irmãs ou amigas por causa de um homem…entre a nora e a sogra…Como é velha a disputa entre a mãe e a filha por causa do amor do pai…como é extenuante a rivalidade das mulheres do cinema e das telenovelas aos puxões de cabelos umas as outras e entre as actrizes…e como os homens gostam e perpetuam isso…
Em séculos de repressão e perseguição pelas religiões, as mulheres foram sempre as maiores aliadas dos homens e dos padres…por medo e intriga, por um lugar na missa ou na sacristia, no bordel ou na fábrica… foram durante anos e anos as mulheres as maiores inimigas umas das outras…durante anos e anos as mulheres viram na outra mulher a inimiga e a rival que lhe iria roubar o homem…e elas tudo fizeram para destruir essa outra mulher por quem se sentiam ameaçadas sem saberem que a “outra” mulher era ela mesma na sua outra face…que ela era afinal a sua face ignorada, esquecida e calada durante anos e anos…séculos…e que a “outra” era apenas a sua face de mulher reprimida de mulher reduzida a mero objecto de prazer e procriação, ao serviço do macho.
Será que hoje as mulheres se dão conta dessa separação e desse ódio?
Será que hoje existe uma “Lealdade Feminina”?

Não, as mulheres ainda não são livres nem amigas, capazes de trocar o abraço de um homem para serem fiéis a si ou a uma outra mulher ou à Deusa, à sua revelação ou à sua manifestação, trocando esse velho mito do Príncipe Encantado e do amor romântico...essa escravidão ao Senhor por amor de si mesma e das suas irmãs…
Não, de forma alguma. A verdade é que esta não é ainda uma realidade e que as mulheres se continuam a trair e a trair as suas irmãs com o medo de perderam uma boa cama ou o abraço de um homem, uma posição social que lhe dá um falso valor e que as nega como indivíduos…
As mulheres continuam a fazer tudo pelo “amor” de um homem, sujeitando-se o obedecendo aos seus caprichos e ordens… Elas são incapazes de dar um passo para se amarem a si mesmas em vez da obsessão do macho…e do amor que as há-de salvar do vazio de si mesmas!

Como tantas vezes vi e confirmei, as mulheres continuam a ser as inimigas umas das outras. Por isso eu não creio na lealdade feminina; para haver lealdade feminina a mulher tem de se conhecer primeiro e integrar a “outra”, a mulher-sombra, essa outra que ela só vê fora…


Por isso essa dita “lealdade feminina” tão desejada e já esboçada como um ideal, não se pode manifestar, a não ser nessas poucas e raras mulheres que se dão conta dessa dicotomia em si e começam a perceber que essa velha inimizade e intriga – criada pelos homens e pelo sistema falocrático que as dividiu assim para poderem reinar – foi o que as impediu de evoluir e criar laços profundos com outras mulheres, e assim começam a ser capazes de se darem sem medo de perder o parceiro e abrem-se umas as outras sem esse velho pavor de perder o homem ou o seu emprego ou mesmo a sua reputação; medos que as dominavam por inteiro há décadas…
Mas são raríssimas as mulheres capazes de abandonar o homem pela carreira ou que fazem uma escolha sua de viver a sua vida de acordo com os seus sentimento e emoções. Sim, são tão poucas as mulheres capazes de serem elas por inteiro e de serem fiéis a si mesmas!

Rosa Leonor Pedro

2 comentários:

Clube do Livro Elas disse...

É bem real essa disputa! Infelizmente no patriarcado isso é esperado e por vezes aplaudido!
E a cada dia que passa tem sido mais difícil ter sororidade, é um exercício diário, porém, quando nos afeta a coisa é sempre mais embaixo. É infeliz que tenham nos jogado uma contra a outra dessa forma, e é algo que temos que estabelecer novamente, começar tudo de novo. O passo mais importante é esse reconhecimento de nossa irmandade e a compaixão pelo outro.
Adorei o texto! <3

www.generoproibido.blogspot.com.br

Ranny disse...

Existe sim essa disputa e muitas mulheres já tiveram suas vidas destruídas por causa de outras que por capricho e desrespeito desfizeram famílias, desrespeitando a família da outra, o sentimento da outra, o relacionamento da outra, fazendo pouco da aparência da outra, da profissão da outra.
É algo que precisa ser curado sim mas acredito que para isso tem que haver evolução espiritual do ser, sem isso não da pra ter amor e respeito pelo próximo, valorizar o outro.
Amar o outro como a ti mesmo como pedia Jesus Cristo além de não fazer com o outro aquilo que não gostaria que fizessem contigo mesmo.
Essas lições de união entre mulheres, ou união de uma sociedade de respeito mútuo é o ideal, mas leva tempo na evolução.
tempo, vontade , mudança de comportamento, pensamento, iniciativa. Evolução e iluminação.
É o que estamos aprendendo aqui no planeta Terra.

Longo caminho de cura pela frente, muitos carmas pra humanidade limpar.
E todos fazendo a sua parte a gente chega lá.