O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, outubro 11, 2016

VIVER SEM AMOR...


O AMOR DE QUEM E DE QUÊ?
Há momentos muito difíceis e complexos na vida de um ser e mais a mais para a mulher em que não sabemos responder ao que sentimos nem o que fazer perante certas situações ou emoções...
Penso que quanto mais tocamos o fundo do nosso ser, por vezes, é como se tocássemos o fundo do mar...e o que acontece é que antes de vermos a beleza que ai se encontra, apenas vimos a terra que se levanta e nos impede de ver o que quer que seja nesse fundo maravilhoso ou não - mas se esperarmos um pouco, a terra assenta de novo e talvez então possamos ver o que lá se encontra em vez de fugirmos a correr para a superfície com medo da poeira e da escuridão...
É precisa muita coragem para atravessar os momentos difíceis em que nada faz sentido e tudo parece ruir... em que nada nem ninguém nos parece poder valer. Sim, nem o abraço mais sentido como dizia no seu texto uma amiga, porque nada nos pode ajudar nesse sítio em que apenas cada uma de nós sabe e nada pode colmatar esse vazio onde a vida nasce ou até onde uma morte se anuncia...


Viver sem amor...
É como não ter para onde ir
Em nenhum lugar
Encontrar casa ou mundo

É contemplar o não-acontecer
O lugar onde tudo já não é
Onde tudo se transforma
No recinto
De onde tudo se mudou
Sem amor andamos errantes
De nós mesmos desconhecidos
Descobrimos que nunca se tem ninguém
Além de nós próprios
E nem isso se tem *

Sim, eu queria escrever sobre esse desejo, esse sonho, esse anseio, essa espera, essa ansia, essa esperança, esse medo, esse erro, sempre o mesmo ou essa ilusão apenas projectada ou sublimado de mil maneiras que a mulher tem no homem, como podia ser na mulher, no filho, na mãe ou no amante num cantor, num actor, na dor de uma ausência, numa morte, numa separação, numa carência.
Quem somos nós assim tão frágeis à deriva de um sentimento e perdidas sem amor...na procura insana de um amor que está provado não existe e apenas foi reflectido e retratado nos mil milhões de romances de dor, de abandono, traição e ódio...
O que nos faz sentir essa falta de amor ou essa falha dentro de nós no nosso amago e que buscamos colmatar no outro/a...e que nos impulsiona a viver numa busca consciente ou inconsciente de uma amor ou um ideal...Pode ser uma causa suprema ou de uma beleza, uma perfeição, outros mundos e deuses e tudo o que não existe aqui na Terra e, de facto nada disso existe real e de forma durável?
Porque somos impulsionadas a amar sempre, a olhar para outro ser - homem ou mulher - e depender dele ou dela  para sermos nós mesmas? Quem fez esta natureza, quem fez esta criatura que se busca e nunca se encontra e nunca se sacia a si mesma, que se vê separada de algo e não sabe como colmatar esse vazio? E porque procuramos fora o que é suposto encontrar dentro? Porque esta necessidade de beleza e de olhar o outro ser - mergulhar nos olhos do outro/a e sentir o céu e a terra estremecer - como me dizia alguém há dias...
Sempre pensei e penso que a idade nos tira as ilusões e destapa os véus...contudo este, o derradeiro véu do AMOR HUMANO este peculiarmente e não outro  pelo outro, o sonho da "alma gémea", o "par alquímico", a alma que nos conhece e compreende e ama e como ninguém nos respeita e eleva sabendo que nunca, mas nunca aconteceu, a não ser pela fracção de segundos ou nos momentos alterados do apaixonamento, essa cegueira que nos prende por tão pouco tempo - conforme o tempo que levamos a cair em nós...e podem ser meses ou anos?
Quem nos fez ou criou assim incompletas, eles e elas, todas nós - onde está a nossa completude e inteireza de ser?
Será que a Mulher sendo ela mesma e inteira, que conhece essa fogo pode viver só e do seu dom e assim se dar sem nada esperar como uma MÃE?
É isso que procuramos sempre UMA MÃE QUE NOS ACALENTE E NOS SEGURE NO SEU COLO E NOS EMBALE NA DOR DE SERMOS SÓS?
Mesmo sabendo que essa mãe não é de carne e osso e só se manifesta in extremis...?
RLP
*poema de Ana Hatherly

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