O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, janeiro 20, 2018

ENTREVISTRA A CAMILLE PAGLIA


(...)
Porque é que o sistema atual não está a funcionar?
Porque estamos neste período urbano e industrial, estamos em plena era tecnológica, em que as tarefas profissionais se tornaram exatamente as mesmas para homens e mulheres. E ainda por cima trabalha-se com a cabeça, não com o corpo. As diferenças sexuais esbateram-se. As mulheres pensam que como têm igualdade no local de trabalho e no mundo da política, acham que as coisas vão mudar também em termos da forma como comunicam com os homens nas suas relações privadas. E estão infelizes. Não se sentem realizadas. Sentem-se sozinhas.

Qual a verdadeira razão para isso?

A perda da solidariedade entre elas com a competição profissional. Perderam a partilha dos problemas de cada uma. Perderam o desabafo sobre o fardo que é ter um filho e criá-lo. Perderam a companhia umas das outras, o apoio umas das outras, e até coscuvilhice - a minha mãe e a minha avó tinham tudo isso - e agora querem que os homens, os maridos, as satisfaçam de todas as maneiras.

E os homens estão preparados para o fazer
Claro que não. Não são capazes, não podem. As mulheres querem que eles ajam como as amigas. Mas isso não é a forma como as mentes deles funcionam.

As mulheres são hoje demasiado exigentes?
São, mas mais importante do que isso é que são miseráveis. As mulheres de classe alta com sucesso no trabalho são infelizes. As feministas sabem-no. E culpam os homens de tudo. Dizem que são eles que têm de mudar de comportamento. Acho que as mulheres têm de ser neste momento mais conscientes e pararem de culpar os homens pela sua infelicidade! Olhem para o sistema laboral e alterem o que tem de ser alterado.

Mas as mulheres não têm hoje de lidar com muito mais pressão?

Sem dúvida. Casam-se, engravidam e querem voltar para o trabalho. Mas quem vai tomar conta dos filhos? Quem vai arrumar a casa, lavar a roupa? Tudo isso são pressões e mais pressões e já não têm com quem as dividir. É por isso que o feminismo de hoje está errado quanto insiste em culpar o homem.

Qual é hoje o papel do homem?
O homem hoje está a passar por uma grande crise de identidade. Não sabe exatamente qual é o seu papel. E as mulheres têm de ter mais empatia para com eles. Os homens têm impulsos diferentes. As suas hormonas não são iguais às nossas e fazem com que os seus cérebros funcionem de outra maneira. E é por isso que a pornografia é tão importante hoje em dia. Porque é o único escape que eles têm para o mundo da sexualidade e da fantasia.

Está a dizer que as mulheres não praticam tanto sexo com os homens como costumavam fazer?

Não é bem isso. É uma questão de tudo ser muito familiar, das regras não se quebrarem, sobretudo nos casamentos burgueses. Há um sentimento de fadiga, não há nada interessante a acontecer ou a permitir que aconteça. Não há o tal mistério. Mas acredito que as mulheres latinas, como as portuguesas, italianas, espanholas e brasileiras têm muito mais criatividade, energia sexual, noção de elegância, sendo ao mesmo tempo grandes empresárias, economistas ou administradoras. Os casamentos de hoje, na América, são aborrecidos sexualmente e o homem corre o perigo de se tornar mais uma criança lá em casa.

O que pensa da atual mania da transexualidade?

Preocupa-me muito. Atravessamos uma época extremamente difícil no que respeita ao terrorismo. Uma época muito parecida com o período romano, quando as tribos fora do império começaram a ameaçá-lo sem que ninguém se apercebesse. Era demasiado grande, burocrático e frágil. De tal forma que caiu. Essas sementes de choque, a transexualidade, que a cultura ocidental lança na terra alheia pode levar a um aceleramento da barbárie e do caos.

Fala da Jihad?

Sim. Estou a dizer que há muitos grupos de fanáticos no mundo que gostariam de deitar abaixo esta civilização ocidental que não entendem. E nós já não sabemos como sobreviver.

O "New York Times" chama-lhe "uma educadora". Mas não se vê mais como uma provocadora?



Sim, sem dúvida. Faz parte da minha personalidade até como escritora. Quero espalhar confusão, destabilizar as pessoas. Derrubar as suas convicções mais sólidas. Mas também sou uma humorista, uma comediante. Inspirei-me muito na Joan Rivers, sou engraçada. No entanto, adoro a sátira e o meu tipo de ataque vem daí. Oscar Wilde foi o meu professor nesse capítulo. Além disso, sou boa a criar polémicas porque consigo resumir o meu pensamento numa frase. O que adquire um poder extraordinário. O que digo torna-se uma máxima. Sou o que me torna muito perigosa.


Excerto de Entrevista a Camille Paglia

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