O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, abril 06, 2018

"Tínhamos tantas solidões.




"Tínhamos tantas solidões.
A dos domingos
antes de anoitecer,
a solidão do comboio
com as solidões cingidas,
a dos pátios
a meio do Outono
quando já não se varre
nem folhas nem flores.
Tínhamos a solidão
do quarto de hospital
depois da hora de visita,
a solidão do amor
depois dos presentes,
a dos gatos esquecidos
nas varandas,
a do dono do gato
que esqueceu o gato
que foi atrás da gata
esquecida na varanda
por uma senhora velha
que sofria de Alzheimer.
Tínhamos as solidões
mais inoportunas, mais contraditórias
as solidões mais revolucionárias
e contra-revolucionárias.
Tínhamos solidões
as mais silenciosas.


Quem pode estranhar por isso
que nos fôssemos?"

VALERIA PARISO
Ilustração: Dino Valls

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